São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 1996
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Fora ogivas nucleares

JOSÉ SARNEY

Enquanto tivermos uma ogiva nuclear na face da Terra, a humanidade não estará liberta do medo e do extermínio.
Depois da queda do Muro de Berlim e da Guerra do Golfo, o mundo passou a enfrentar, superada a confrontação ideológica e eliminado o mais explosivo foco de conflito localizado, os chamados problemas da sobrevivência da humanidade: ecologia, migrações maciças, doenças desconhecidas, narcotráfico, Aids, controle do problema nuclear, balanço alimentar, fundamentalismos, guerras étnicas. Mas há o maior e mais essencial de todos.
Em todas as conferências internacionais de que tenho participado, não deixo de levantar o tema e lutar pela conscientização que deve ser de todo dia e de todos nós: o desarmamento nuclear.
Agora, vejo que a ONU aprovou o CTBT, o Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares. É um avanço. Mas não nos esqueçamos que a Rússia e os Estados Unidos têm mais de 7.000 ogivas nucleares, a França, 512, a Inglaterra, 464 e a China, 284, quantidade capaz de destruir cinco vezes a vida na face da Terra.
Há 25 anos foi assinado o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares. Sob o argumento de que ele congelava o avanço tecnológico no setor nuclear, nem nós nem a Argentina o assinamos. Era um eufemismo. Na verdade, havia o problema militar entre nossos dois países, o que, felizmente, não existe mais.
Collor e Menem fizeram um "by pass" para nossa inserção no passo internacional. Assinamos um acordo de inspeção que salvava a cara -que bobagem- de não termos assinado o Tratado de Não-Proliferação, mas aceitávamos suas regras.
Fomos signatários do Tratado de Tlatelolco, que não permite armas nucleares na América Latina, e do Tratado de Paz do Atlântico Sul (proposta do meu governo, no mesmo sentido).
Agora assinamos o tratado contra os testes nucleares, demonstração de que não temos nenhuma vocação, projeto ou simpatia por qualquer coisa que diga respeito à utilização militar do domínio nuclear e de nossa participação moral e política contra qualquer forma de força nuclear.
Quando não assinamos o TNP, era chanceler Magalhães Pinto. A Revolução de 64 estava tomando um rumo diferente e ninguém sabia como ia terminar. Achavam que o prestígio de um país estava ligado diretamente à sua força nuclear e nosso objetivo consagrador era entrar para o clube fechado das potências nucleares. Isso, agora, é coisa do passado. O Brasil não tem por que deixar de assinar o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares.
É um gesto moral e político. E não devemos ficar só aí, devemos lutar por todas as formas pela destruição total das ogivas nucleares armazenadas, bem como dos foguetes condutores.
O mundo já aprendeu como suicidar-se. É impossível retroceder em seus conhecimentos. Mas daqui para a frente o primeiro passo deve ser extinguir as armas da morte.
Como se diz na minha terra, para Deus, um homem desarmado vale por dez.

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