São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 1996
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Serra prefeito

ANTONIO KANDIR

A poucos dias das eleições, José Serra surge como o mais provável e forte candidato para enfrentar Celso Pitta no segundo turno. Ruim para quem procurou esquivar-se todo tempo do confronto direto, valendo-se de marketing político tão competente quanto enganoso. Bom para os eleitores, que poderão assim comparar, no mundo real dos fatos e dos argumentos, a capacidade de cada qual para conduzir a cidade nos próximos quatro anos.
Serão quatro anos decisivos para São Paulo. Com seus defeitos e virtudes, a cidade está deixando de ser a metrópole industrial que foi nos últimos 30 anos. Será capaz de transformar-se numa cidade moderna do começo do século 21, mais humana e civilizada, sem perder o dinamismo que lhe é característico? A resposta depende, em grande parte, da escolha de um prefeito à altura dos desafios que essa transição coloca para nós paulistanos.
Há quem insista em continuidade. Duplo engano. Primeiro, imaginar que vamos transformar São Paulo numa cidade moderna e civilizada seguindo a linha da atual gestão, que parece preferir mais túneis a melhores escolas, mais automóveis (e congestionamentos) a melhores meios coletivos de transporte, obras mais caras a obras mais baratas, obras que beneficiam poucos a obras que beneficiam muitos. Segundo, imaginar que São Paulo possa continuar a investir à base de um endividamento temerário.
Essa gestão não só investiu errado, como de modo insustentável. São Paulo precisa, portanto, de um prefeito que saiba redefinir o rumo, olhar o longo prazo e mobilizar os vários setores da sociedade para a grande tarefa coletiva de fazer uma cidade melhor: viável do ponto de vista ambiental, generosa na oferta de opções de lazer gratuito, abundante na oferta de meios coletivos de transporte, racional na ocupação do espaço urbano, viva e integrada do ponto de vista cultural -pólo de serviços dinâmico e diversificado, vocação que São Paulo é capaz de realizar em sua plenitude.
Esse prefeito é José Serra. Em primeiro lugar, porque Serra vê São Paulo sob uma ótica ampla e de longo prazo (não a ótica estreita, míope e socialmente elitista que caracteriza a atual administração). Em segundo lugar, porque tem a envergadura política necessária para governar uma cidade da importância e complexidade de São Paulo, cujos problemas exigem soluções que não raro ultrapassam as fronteiras do município.
Em terceiro lugar, porque tem raízes profundas na cidade e amplo trânsito em todos os segmentos que a compõem, dos trabalhadores aos empresários, das lideranças comunitárias da periferia à intelectualidade, trunfo indispensável a quem queira governar São Paulo de maneira democrática e eficiente.
Em quarto lugar, porque Serra tem a obstinação dos empreendedores e a seriedade dos homens públicos de primeira linha, atributo decisivo para um prefeito que terá, a um só tempo, de mobilizar os investimentos necessários ao desenvolvimento da cidade e desarmar a bomba relógio armada pela atual gestão, que geriu as finanças públicas como se São Paulo terminasse ao cabo deste mandato.
No próximo dia 3 de outubro, e depois no 15 de novembro, estaremos decidindo em que cidade desejamos viver. Se numa cidade irracional e brutalizada ou numa cidade que, apoiada em suas melhores e mais fortes vocações, construa um futuro melhor do que o presente. A opção é clara. Como paulistano que ama a cidade onde nasceu, voto Serra, certo de ser ele o prefeito de que São Paulo precisa.

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