São Paulo, sábado, 28 de setembro de 1996
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Premiê de Israel 'só repete slogans', diz especialista

LUCIA MARTINS
DE LONDRES

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, nunca definiu uma estratégia para resolver o problema dos palestinos que moram em áreas ocupadas, o que acabou causando prejuízos para o processo de paz na região.
Essa é a opinião de Ibrahim Karawan, chefe do setor de estudos sobre Oriente Médio do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres.
"Desde que assumiu (em junho deste ano), Netanyahu só repete slogans. Está claro que ele não sabe como resolver o problema", afirmou ontem à Folha.
Segundo o doutor em história, a comunidade internacional atentou para a falta de diretrizes do governo Netanyahu e já começou a fazer pressão.
Karawan, no entanto, diz acreditar que a pressão dos Estados Unidos sobre o governo de Israel e sobre os palestinos será moderada.
"O presidente Bill Clinton está às vésperas das eleições (presidenciais, em novembro). Ele vai pressionar, mas moderadamente, porque a opinião pública está dividida sobre quem tem razão no conflito: israelenses ou palestinos."
Guerra ou não?
Segundo o especialista em Oriente Médio, é muito remota a possibilidade de os conflitos se transformarem em uma guerra envolvendo países árabes e potências ocidentais.
"A Jordânia e a Síria sabem que não têm força para lutar com potências como os Estados Unidos, por exemplo. Além disso, a Jordânia, entre outros, recebe ajuda financeira do Ocidente e não ia querer perder isso", afirmou.
O que pode acontecer, diz Karawan, é uma escalada de violência nos arredores -patrocinada principalmente pela Síria, que financia o Hizbollah (grupo fundamentalista islâmico que luta pela desocupação israelense do sul do Líbano).
"Acredito que novos conflitos no Líbano possam voltar a ocorrer. Não me surpreenderia se o Hizbollah voltasse a atacar. Acho que a Síria pode começar a estimular novos ataques."
Tática palestina
Para Karawan, o caminho do confronto não é a melhor tática que os palestinos poderiam usar para sensibilizar e buscar apoio do resto do mundo para resolver os seus problemas.
"Excesso de violência enfraquece a posição palestina politicamente. O melhor caminho para conquistas deve ser a diplomacia e a negociação."
E acrescentou: "Um conflito rápido até pode ter algum efeito porque o mundo voltaria a atenção para a região. Mas, se os confrontos começam a se alongar muito, eles começam a perder força".
Já o governo israelense, do premiê Netanyahu, deve tentar criar um "clima psicológico" nas áreas ocupadas para facilitar as negociações e parar a violência, na opinião de Karawan.
Por clima psicológico, ele entende a tentativa de engajar os palestinos nas negociações.

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