São Paulo, sábado, 28 de setembro de 1996
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ANTES DA BORRASCA

Em contraste com o sucesso no controle da inflação, o desempenho das contas públicas continua deixando a desejar, para dizer o menos. Mesmo descontada a parte dos gastos que corresponde à correção monetária da dívida pública -um procedimento não utilizado na contabilidade de países com economia estável-, o déficit orçamentário dos primeiros sete meses deste ano ficou em 3,7% do PIB. Nos planos do governo, esse número não deveria superar os 2,5% este ano.
Mas, se é preciso reafirmar a necessidade de enxugar o Estado, não convém exagerar em prognósticos pessimistas sobre as consequências de um déficit da magnitude do atual. Mais que o tamanho da diferença entre receitas e despesas, o que importa é conquistar credibilidade. E nesse campo a política econômica parece estar avançando.
Nesse sentido, a gravidade do déficit está relacionada ao ainda recente período de descontrole inflacionário. A memória de preços em alta descontrolada ainda não se apagou. Na eventualidade de uma deterioração das expectativas econômicas, devida, por exemplo, a notícias ruins na área externa ou no campo político, o déficit poderia tornar-se um fator adicional de instabilidade.
Enquanto a embarcação se encontra bem ancorada e o mar está calmo, causa menos apreensão que uma das amarras esteja desenganchada. Mas se sobrevier uma borrasca, tal falha pode custar caro. Pode ser ela a diferença entre sofrer uma turbulência ou soltar-se à deriva.
Não é possível apontar uma única causa para o elevado déficit do setor público. Nele estão incluídas as contas da União, de Estados, municípios e empresas estatais. As elevadas taxas de juros mantidas pelo Banco Central certamente respondem em boa parte por esse resultado negativo. Mas o fato é que, nas várias esferas administrativas, a reforma da máquina pública anda muito lentamente. E tal quadro tem de mudar. Sem alarmismo, mas com firmeza.

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