São Paulo, sábado, 28 de setembro de 1996
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Algo errado com Serra

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - José Serra diz estar "sentindo" que vai para o segundo turno na disputa pela eleição à Prefeitura de São Paulo. As pesquisas mostram algo diferente. O tucano está empacado no terceiro lugar.
É curiosa essa patinada de Serra. Se ele acabar confirmando as pesquisas no dia 3, milhares de explicações vão surgir para a sua derrota.
A esta altura da campanha, é possível dizer que há algo de errado com Serra. É fácil concluir isso comparando a campanha tucana com as de eleições passadas.
Por exemplo, a eleição para governador de São Paulo em 82. Foi a primeira eleição direta para esse cargo depois de anos de regime militar.
Ganhou em 82 o então peemedebista e hoje tucano André Franco Montoro, com 46,7% dos votos. Em segundo ficou Reinaldo de Barros, o candidato do governador que saía, Paulo Maluf.
Reinaldão, como era conhecido, teve 23,4%. Conseguiu isso com o apoio de Maluf. Na época, o presidente da República era o general Figueiredo, o neologismo "malufar" era sinônimo de roubar e o ambiente era péssimo para a política malufista.
Mesmo assim, Reinaldo de Barros ficou em segundo lugar, deixando para trás gente de peso como Jânio Quadros (com 11,9% dos votos) e Lula (9,8%).
Pois bem, hoje não consta que "covar" seja sinônimo de improbidade administrativa. O máximo que se pode dizer é que o atual governador paulista, Mário Covas, não esteja fazendo muita coisa.
O presidente Fernando Henrique Cardoso também não está com sua popularidade em baixa. Tanto FHC como Covas deram apoio explícito a Serra. E o tucano não sai da casa dos 15% nas pesquisas.
Alguma coisa está errada na campanha tucana. E esse erro foi o PSDB ter escolhido um candidato inadequado para a atual eleição paulistana.
Talvez Covas tivesse razão ao dizer que o candidato tucano teria de ser um "brigador", disposto ao enfrentamento -definitivamente, algo que Serra não é. Pelo menos, em público.

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