São Paulo, sábado, 28 de setembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O dono do éter

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Outro dia, escrevi sobre o festim que começará logo depois do dia 3 de outubro. Parece que o tesoureiro-ministro Sérgio Motta pegou o espírito da coisa. Segundo o "JB" de quinta-feira, ele assumiu o rega-bofe dizendo a mesma coisa: "Vai ser uma festa!". (Louve-se o tucanato: ele ressuscitou os pontos de exclamação que fizeram a glória do Conselheiro Acácio!).
A festa será de arromba. Segundo o Ministério das Comunicações, serão distribuídas 60 concessões que poderão resultar em 12 novas redes de TV, 150 emissoras de rádio FM e 400 de rádio AM.
O Plano de Distribuição de Frequência de Radiodifusão prevê mais 210 geradoras de televisão e 2.542 emissoras de rádio. Tudo bem: é para a frente que se deve andar e como o Estado é dono do éter, cabe-lhe a distribuição dos canais e frequências.
Por coincidência, aquilo que o tesoureiro Motta chama de "festa" e eu chamei de "festim" terá início simultâneo com a ofensiva do governo para obter a reeleição no Congresso. Cerca de 40% (alguns dizem que chega aos 60%) dessa imensa teia de comunicação já pertence a políticos. Ou direta ou indiretamente.
Os editais serão publicados nos dias 7 e 8 de outubro. Registre-se o escrúpulo do governo: o festim começará depois de apuradas as eleições para prefeitos e vereadores -que, aliás, não têm voto no Congresso, não serão cheirados nem fedidos na hora de emendar a Constituição.
Para compor a beatitude do governo que tem como certa a reeleição do atual grupo no poder, há o verbo tranquilizador de outro Sergio, o Amaral, porta-voz de FHC. Ele garante que o suculento cardápio de concessões de forma alguma será usado como instrumento de barganha para influir na votação da emenda.
Dono do éter em cima do território nacional, o governo garante que não será dono das consciências aqui em baixo.

Texto Anterior: Algo errado com Serra
Próximo Texto: Apelo aos amigos das crianças
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.