São Paulo, segunda-feira, 30 de setembro de 1996
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"Globalização é péssima para o Brasil", diz Dallari em debate

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O ataque à globalização da economia e defesa de posições nacionalistas acabou aproximando o jurista Dalmo Dallari e o físico e ex-reitor da UnB José Carlos de Azevedo durante os "Diálogos Impertinentes", que na última terça-feira discutiu no teatro do Sesc Pompéia, em São Paulo, a "Democracia".
O evento, patrocinado pela Folha, pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e pelo Sesc (Serviço Social do Comércio), foi mediado pelo jornalista Caio Túlio Costa, diretor-executivo do Universo Online, da Folha, e pelo professor do Departamento de Teologia da PUC-SP Mario Sérgio Cortella.
Dallari disse enfaticamente que "a globalização é péssima para o Brasil". "Se conseguíssemos fazer dos habitantes do Brasil consumidores, não precisaríamos do mercado externo", argumentou.
"Se a opção for entre ser globalizado ou caipira, eu prefiro continuar caipira", opinou o jurista, que é professor titular da Faculdade de Direito da USP.
Azevedo, que tem formação militar e é oficial da reserva, comparou a situação do Brasil à de um time de futebol da segunda divisão que chega à primeira e pensa que pode disputar um jogo contra o Santos de Pelé "de igual para igual".
"O que acontece é que esse time perde de 12 a zero", disse Azevedo. "A globalização será um malefício para o Brasil, porque não estamos preparados para competir tecnologicamente com os países avançados", concluiu.
Num momento de maior radicalismo, Dallari chegou a dizer que "a globalização é em grande parte uma invenção da mídia". "Não me parece uma fatalidade que tenhamos que nos render às imposições de uma cúpula econômica", afirmou.
Ambos voltaram a mostrar sintonia quando discorreram sobre a democracia. Disseram que a experiência democrática no Brasil é muito limitada e que só poderá haver democracia efetiva no país quando houver "igualdade de oportunidades".
A única maneira para que isso ocorra, argumentou Azevedo, é "por meio de uma ampla reforma do sistema educacional brasileiro". Ele citou os chamados "tigres asiáticos" para exemplificar países que superaram o subdesenvolvimento investindo de forma maciça em educação.

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