São Paulo, sexta-feira, 3 de janeiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Dirceu sabia que Vaccarezza era 'fantasma'

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente do PT, José Dirceu, sabia havia pelo menos duas semanas que o secretário-geral do partido, Cândido Vaccarezza, era funcionário "fantasma" no gabinete da presidência da Câmara Municipal de São Paulo, à época exercida pelo malufista Brasil Vita (PPB).
Dirceu não tomou providência. Ele foi comunicado do caso em carta enviada por seis vereadores dos 13 vereadores que compunham a bancada do PT na legislatura passada.
Assinaram a carta a Dirceu os vereadores Chico Whitaker, Devanir Ribeiro, Henrique Pacheco, José Eduardo Martins Cardozo, Odilon Guedes e Tereza Lajolo.
No texto, os vereadores petistas questionavam o comissionamento de Vaccarezza, que é médico concursado da prefeitura paulistana, no gabinete de Vita e, ainda, pediam que o caso fosse apurado.
Dirceu está no Chile, sabe que a Folha revelou o caso na edição de terça-feira passada, mas até agora evitou se manifestar.
O silêncio de Dirceu mostra a dificuldade que o escândalo de Vaccarezza levou ao PT. Em graus diferentes, quase toda a estrutura partidária do PT está hoje montada em cima de funcionários legislativos que, desviados de suas funções, recebem o dinheiro público e não trabalham nas Câmaras Municipais ou Assembléias Legislativas.
Na Câmara paulistana, por exemplo, cada vereador do PT é obrigado a ceder ao partido três funcionários. Normalmente, o "emprestado" a políticos da legenda ou à burocracia partidária só aparece ao local em que oficialmente deveria trabalhar para assinar o ponto.
Na Assembléia Legislativa de São Paulo, todo deputado do PT cede quatro funcionários ao partido.
A requisição dos funcionários é automática. Os parlamentares petistas, de todas as correntes do partido, emprestam os funcionários pagos com dinheiro público.
Ameaça
O "rabo preso" está provocando, no bastidor petista, uma guerra de retaliações. O vereador Devanir Ribeiro, por exemplo, é o atual líder da bancada, discordou da atitude de Vaccarezza, mas ontem evitou pronunciar-se sobre o caso.
Há oito anos, Ribeiro comissionou em seu gabinete Paulo Vanucchi, que trabalha no escritório político de Luiz Inácio Lula da Silva. Lula foi procurado ontem em seu escritório e em casa, mas não foi localizado pela reportagem.
O inusitado, no caso de Vaccarezza, é que normalmente os "fantasmas" petistas são abrigados por correligionários.
Vaccarezza é integrante da ala de "centro" do PT, mas mesmo políticos que hoje formam o bloco majoritário na direção criticaram seu comissionamento. Esse é o caso, por exemplo, do deputado José Genoino, da "direita" petista e aliado de Vaccarezza na cúpula.
As críticas a Vaccarezza são feitas também por integrantes da "esquerda" petista, como o deputado Arlindo Chinaglia. O problema para algumas correntes de "esquerda" é que elas também utilizam os comissionamentos de funcionários do Legislativo para uso de seus interesses.
O vereador paulistano José Eduardo Martins Cardozo, que cede a funcionária municipal Muna Zeyn para a ex-prefeita Luiza Erundina, acha que o caso é diferente do de Vaccarezza.
"É inaceitável ter um dirigente partidário comissionado em um gabinete malufista", disse. Valdemir Garreta, tesoureiro do PT paulistano e do mesmo grupo de Vaccarezza, defendeu o dirigente. "O Vaccarezza trabalha para o PT. O debate correto é se o partido deve continuar ou não utilizando os cargos do Parlamento", declarou.

Texto Anterior: Previdência liquida fundo Previ-Banerj
Próximo Texto: Situação inclui outros 200
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.