São Paulo, sexta-feira, 3 de janeiro de 1997
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PÉSSIMO EXEMPLO

A conquista de benefícios pessoais na administração pública, numa clara e imoral usurpação de recursos de toda a sociedade, está há muito disseminada nas várias esferas de poder. Muitas vezes se sobrepõe até mesmo a critérios políticos, unindo adversários em torno de privilégios.
Ao recusar trabalhar para o PAS (Plano de Atendimento à Saúde) e aceitar ser comissionado no gabinete do presidente da Câmara paulistana, Brasil Vita (PPB), o secretário-geral do PT, Cândido Vaccarezza, deu um lamentável exemplo das diferentes formas de improbidade facilmente encontráveis no serviço público.
Como médico concursado da prefeitura, Vaccarezza deveria trabalhar para a administração municipal. Para isso a população da cidade de São Paulo paga o seu salário, segundo ele, de R$ 1.200 líquidos mensais.
Entretanto, julgando-se dono da função que o poder público -a sociedade- lhe concedeu, o secretário-geral petista, com a conivência de vereadores, adequou de diversas maneiras sua situação administrativa a seus interesses particulares. Como não queria trabalhar para o PAS, por uma posição política, decidiu entregar seu destino à Câmara Municipal.
Conseguiu assim a confortável situação de receber um salário sem dedicar seu tempo a quem o paga, ou seja, os paulistanos. Não trabalha na Câmara, e sua atividade no PT está a milhas de distância da prática da medicina, única razão pela qual ele está na administração pública.
A existência de funcionários "fantasmas" nas várias esferas de governo constitui um dos grandes símbolos de imoralidade no serviço público do país. O problema não se restringe a Vaccarezza nem ao PT, que, contra as suas próprias bandeiras de correção administrativa, admite usar outros funcionários do Legislativo para atividades do partido.
O Estado brasileiro deve banir tais práticas viciadas de toda a sua estrutura administrativa, inclusive com a demissão de seus patrocinadores. Trata-se de uma premissa básica para que se possa seguir rumo a um país realmente mais desenvolvido.

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