São Paulo, sexta-feira, 3 de janeiro de 1997
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Esquerda acorda tarde

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Com um atraso que parece de séculos, um luminar da esquerda brasileira, o deputado José Genoíno (PT-SP), vem a público para pregar a tese de que as esquerdas precisam sair da crítica e passar à apresentação de alternativas.
Perfeito. Pena que as dificuldades para passar da teoria à prática sejam formidáveis e, até agora, tenham se revelado intransponíveis.
Simplificando, o que aconteceu com a grande maioria das esquerdas, no Brasil e no mundo, foi o seguinte:
1 - a esquerda, mesmo a chamada esquerda democrática, sempre teve como horizonte a idéia de que todos os problemas do capitalismo eram intrínsecos ao capitalismo.
Só podiam ser resolvidos, portanto, com a mudança do modelo, passando-se do capitalismo ao socialismo.
2 - como as esquerdas se propunham exatamente a fazer essa passagem, não precisavam perder tempo e neurônios estudando como resolver, dentro do capitalismo, os problemas do capitalismo.
Era só trocar de regime e os problemas desapareceriam.
3 - a partir do momento em que se apagou, pelo futuro previsível, a perspectiva de substituir o capitalismo pelo socialismo, a esquerda perdeu o rumo. Ficou obrigada a ter propostas para resolver os problemas do capitalismo, sem mudar de regime, tarefa para a qual não estava e não parece estar preparada emocional e historicamente.
Para que se cumpra a proposta de Genoíno, a esquerda precisa abandonar, ao menos taticamente, a idéia de mudança radical e conformar-se com uma mera reforma do capitalismo, o que parece remeter à antiga polêmica entre reformistas e revolucionários.
O desafio inicial das esquerdas é decidir se considera o capitalismo reformável ou se continua achando que ele é intrinsecamente negativo. O desafio seguinte é continuar sendo esquerda, mesmo que escolha o primeiro caminho.

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