São Paulo, sexta-feira, 3 de janeiro de 1997
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A operação de Maluf

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - A operação a que se submeteu ontem Paulo Maluf teve e continuará a ter fortes reflexos em Brasília. Ainda que ele tenha alta do hospital em alguns dias e diga que continuará trabalhando pelo telefone.
O simples fato de Maluf estar momentaneamente enfermo poderá enfraquecer o bloco de parlamentares contrários à emenda da reeleição.
Por ser assunto delicado, políticos evitam analisar o tema em "on" (abertamente), como dizem os jornalistas. Mas os comentários existem. E tendem a se proliferar em Brasília.
Ocorre que uma parcela considerável dos deputados e dos senadores vai votar a emenda da reeleição pensando não apenas no bem do país. Pensarão muito nos seus futuros pessoais.
Nesse caso, o parlamentar raciocina em termos de perspectiva de poder. Ao olhar para o final de 98, julgando pela conjuntura atual, enxerga poucos candidatos com chance de vencer FHC numa disputa para presidente.
Hoje, segundo o Datafolha, FHC teria de 33% a 35% dos votos, dependendo de quem fossem os adversários.
Maluf é um desses adversários. Contra FHC, teria de 13% a 17% dos votos. Enfim, Maluf é uma opção de poder para vários deputados e senadores alijados do ninho tucano-pefelista.
O ex-prefeito de São Paulo já disse várias vezes que deseja ser candidato a presidente. É isso que interessa para os, vamos dizer, pragmáticos do Congresso. Sim, porque em política você não precisa necessariamente ganhar.
Vários parlamentares que hoje são do chamado bloco malufista estão pouco se lixando se Maluf vai ou não ganhar em 98. É claro que prefeririam que ele vencesse.
Mas o que importa mesmo é ter um candidato forte e com disposição para a maratona que é uma campanha presidencial. Isso já é suficiente para que deputados e senadores consigam manter suas cadeiras no Congresso.
Só que a enfermidade de Maluf coloca um ponto de interrogação nos planos de muitos políticos. E, por extensão, isso facilita para FHC a aprovação da emenda da reeleição.

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