São Paulo, domingo, 5 de janeiro de 1997
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Horacio Verbitsky

ELIO GASPARI

(55 anos, colunista do jornal Página/12, de Buenos Aires, autor do livro "O Vôo")
A que o senhor atribui a epidemia de reeleições por que passa a América Latina?
Talvez ela se explique com uma frase de Simon Bolívar. Numa época em que o Brasil tinha imperador, ele dizia que "nossos Estados da antiga América Espanhola precisam de reis com o nome de presidentes". Nossos presidentes sempre têm alguma coisa de monarca. No caso brasileiro, a contaminação se dá por uma fraqueza do sistema partidário, que se mostra institucionalmente incapaz de oferecer alternativas. Bolívar disse sua frase há quase 200 anos, mas acrescentou que "essa forma de governo é possível por transitória, enquanto os povos se fazem dignos da república e a melhoria da sociedade aperfeiçoa o poder". Menem, Fujimori e Fernando Henrique ficaram só com a primeira parte do raciocínio.
O senhor acha que Menem está armando um jeito de disputar uma nova reeleição em 1999?
Se puder, ele tenta. Para isso precisa recuperar a popularidade. Ele hoje não tem a metade do prestígio de 1995, quando foi reeleito. Menem preside o país fechando as alternativas ao seu poder. Fecha-as sobretudo no próprio partido. Ou ele quer se manter como árbitro da sucessão, ou quer se reapresentar como única alternativa. Mesmo assim, acho que lhe será muito difícil armar esse cenário.
O Menem do segundo mandato se parece com o Menem do primeiro?
Depende de quem olha. O ex-ministro Domingo Cavallo diz que o segundo Menem é um político que se soltou dos limites de comportamento que ele lhe impôs no primeiro governo. O Menem do segundo mandato está demonstrando que era falso o argumento segundo o qual a reeleição evitava os traumas econômicos de uma sucessão. Ele se reelegeu, e a sucessão está aí de novo. Foi apenas adiada. Se ela podia criar transtornos antes -coisa na qual não creio-, criará os mesmos transtornos agora. O rosto do segundo Menem se tornou mais cansativo e muito menos popular. É um rosto com as rugas de 22% de desemprego na zona industrial de Buenos Aires, agravadas pelo cansaço das denúncias de corrupção. Não se sabe se ele quer continuar no poder, ou se quer ficar ao amparo da impunidade que o poder lhe dá. Se ele tiver a possibilidade de disputar a reeleição, essa campanha será apenas mais um capítulo da eterna luta do homem pela liberdade.

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