São Paulo, domingo, 5 de janeiro de 1997 |
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França pode mudar política monetária
GILSON SCHWARTZ
Duas personalidades consideradas "fiéis" ao presidente Jacques Chirac foram nomeadas: Pierre Guillen, dirigente da patronal francesa, e Jean René Bernard, ex-colaborador do presidente George Pompidou. Substituem dois defensores da política do "franco forte" e pelo menos um, Guillen, é sabidamente favorável a uma política mais flexível. Os dois nomes foram propostos pelo presidente do Conselho Econômico e Social, Jean Matteoli. A nomeação passa pela Assembléia Nacional, pelo Senado e pelo Conselho Econômico e Social. Chega-se a uma lista tríplice de candidatos que finalmente é submetida ao presidente. A opção de Chirac gerou polêmica e criou mal-estar na maioria governista formada pelo partido neo-gaullista RPR (Reagrupamento para a República) e pelo liberal UDF (União pela Democracia Francesa). O presidente do Senado, René Monory, prometeu uma iniciativa que possa dar mais garantias ao sistema de escolha. Seu candidato foi preterido por Chirac. O ministro da Economia, Jean Arthuis, disse que a decisão confirma a opção por uma política de estabilidade do franco e de continuidade da política monetária. O episódio é interessante, em primeiro lugar, por revelar como a idéia de banco central independente é mais difícil de implementar do que imaginam os seus defensores mais radicais. Afinal, o Conselho de Política Monetária foi criado precisamente com o objetivo de tornar o banco central francês independente, por ocasião de uma reforma promovida em 1994. O Conselho tem nove membros, o governador e dois vice-governadores, nomeados por seis anos, e outros seis membros, com mandatos de nove anos. As nomeações da semana passada rompem o equilíbrio que antes favorecia a política de "franco forte". Nas últimas semanas aumentou o debate no próprio Conselho de Política Monetária, ganhando espaço a proposta de negociar com a Alemanha uma redução dos juros com valorização do dólar. Nos meios financeiros não há consenso. Há quem tema os efeitos de uma mudança na política monetária sobre a integração européia. Filosofia Esse debate econômico na França não é resultado apenas das agruras do desemprego e das dificuldades da integração. Embora a Inglaterra seja considerada o "berço" da ciência econômica, a rigor os franceses tiveram uma importância comparável à de Smith, Ricardo ou Keynes. E, como na Inglaterra, também na França há séculos a economia e a filosofia mantêm linhas de comunicação. Nesse contexto vale ler o artigo "La croissance a-t-elle un avenir?" ("O Crescimento tem Futuro?"), de Jean-Paul Fitoussi, professor do Instituto de Estudos Políticos de Paris e presidente do Observatório Francês de Conjunturas Econômicas (republicado na "Problèmes Économiques"de 11/12/96). Fitoussi reclama da resignação geral frente ao crescimento medíocre que acompanha a mundialização econômica dos últimos anos. Defende uma terceira via, em que o ajuste econômico não sacrifique o contrato social. Filosoficamente, Fitoussi lembra que não se pode confundir processos econômicos com calamidades naturais. Existem ciclos, mas a história mostra que a vocação para o crescimento é um resultado do próprio dinamismo social. Politicamente, Fitoussi insiste numa fórmula simples e conhecida. Ele diz que é preciso mudar o "mix" da política econômica, relaxando a política monetária e aumentando o rigor da política fiscal. Seria o caminho para domesticar os mercados financeiros e retomar o crescimento econômico. Há quem considere que políticas econômicas são "imexíveis". O texto de Fitoussi e a decisão de Chirac sugerem que as mudanças são desejáveis e possíveis. Logo, pode surgir um "novo franco". Texto Anterior: Hora do país real Próximo Texto: Brasil lidera em fundos de investimentos Índice |
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