São Paulo, domingo, 5 de janeiro de 1997
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Partido de Lebed quer ser 'terceira via'

ANNE CHEVALIER
DO "LIBÉRATION", EM MOSCOU

Alexander Ivanovitch Lebed não é o tipo de homem que costuma desistir de uma empreitada no meio do caminho. Foi demitido da chefia do Conselho de Segurança e deixou de ser deputado da Duma. Como reagiu a tudo isso? "Gosto de vencer obstáculos. As dificuldades não me assustam", diz ele.
Em dezembro, longe da agitação de Moscou, na cidadezinha de Golitsino, o antigo comandante pára-quedista lançou-se numa nova aventura: a criação de um partido político. O contexto foi bem escolhido: um centro de formação permanente. Os "alunos" eram os membros do "Honra e Pátria", o movimento de ex-oficiais que apoiou Lebed em sua campanha eleitoral para a Presidência.
É em torno desses homens que Lebed está criando seu partido. "Os políticos conhecidos não me interessam mais", explicou. A aliança recentemente sugerida por Lebed com o prefeito de Moscou, Iuri Lujkov, hoje lhe parece ter poucas probabilidades de sucesso. Sua dupla com o ex-chefe da guarda presidencial Alexander Korjakov também deixou de existir.
No dia seguinte à sua demissão do Conselho de Segurança, em outubro, anunciou a próxima criação de seu partido, cujo nome inicialmente previsto era "Pela Verdade e a Ordem". Mas o partido emergiu como Partido Popular Republicano Russo (PPRR).
"Será o partido da terceira via, e eu serei seu comandante", precisou Lebed. "Mais da metade da população rejeita tanto a via comunista quanto a chamada via democrática", acrescentou. Em sua ótica, a terceira via deve reunir eleitores que, no segundo turno da eleição presidencial, optaram "entre o ruim e o muito ruim".
Para Lebed, essa parcela da população tem uma cara precisa. São militares, empregados do complexo militar-industrial, a "intelligentsia", mas também os donos de pequenas e grandes empresas.
O general, no dia do primeiro turno da eleição presidencial, proclamou: "Eu nasci vencedor". O fato de ter conquistado 15% dos votos e de ter assinado a paz na Tchetchênia são, para ele, apenas prelúdios às glórias futuras.
Embora sua popularidade tenha caído ligeiramente depois de sua queda do poder, seus menores gestos e feitos são acompanhados atentamente pelas autoridades, embora ignorados pela imprensa.
Seu Partido Popular-Republicano Russo surge como uma nova etapa lógica em sua estratégia de conquista do poder. Cerca de 150 delegados se reuniram em Golitsino para discutir, ao lado de seu ídolo, a famosa "terceira via" que se situaria entre o comunismo e a "democrato-nomenklatura" que dirige o país. O partido já conta com mais de 86 mil filiados em 72 das 89 regiões da Rússia.
Mas Alexander Lebed não se mostra muito apressado. O programa de seu partido ainda não foi redigido. Lebed anunciou que será oficialmente apresentado em março próximo, durante o congresso de fundação do PPRR.

Tradução de Clara Allain

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