São Paulo, domingo, 5 de janeiro de 1997
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TRECHOS

Sobre a morte de John Kennedy:
"Durante a primeira hora (após a notícia do atentado), uma nação atônita se pregou nos detalhes que vinham do hospital até se tornar claro que o presidente se encontrava em estado crítico.
Então, veio a primeira informação, não-oficial, de que o presidente tinha morrido. Nós ainda estávamos debatendo em Nova York se devíamos colocar essa notícia no ar, quando o hospital divulgou um boletim confirmando-a. Coube a mim fazer o anúncio.
Uma coisa interessante acontece conosco, jornalistas. Nós parecemos muito com médicos, enfermeiras, bombeiros, policiais. No meio da tragédia, nosso dever profissional toma conta de nós e domina nossas emoções. Agimos quase como autômatos. A hora da reação emocional tem de esperar.
Eu estava indo bem nesse departamento até que foi necessário pronunciar as palavras: 'De Dallas, Texas, a notícia, aparentemente oficial. O presidente Kennedy morreu às 13h, horário local, meia hora atrás'.
Essas palavras grudaram na minha garganta. Um soluço queria tomar o lugar delas. Engoli em seco uma ou duas vezes no lugar do soluço, que se transformou em lágrimas se formando nos cantos dos meus olhos. Lutei contra as emoções e reconquistei o profissionalismo, mas precisei de alguns segundos antes de continuar: 'O vice-presidente Johnson deixou o hospital em Dallas, mas ainda não sabemos para onde foi. Presumivelmente, ele vai prestar juramento, em breve, e se tornar o 36º presidente dos EUA'."
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Sobre a chegada do homem à Lua:
"Aquela primeira alunissagem foi, de fato, a mais extraordinária matéria do nosso tempo e um fato quase tão notável para a TV como para a própria era espacial.(...) Quando Neil (Armstrong) emergiu da 'Águia', eu quase reconquistei a compostura, que eu havia perdido completamente quando o módulo lunar tocou suavemente a superfície da Lua.
Eu havia me preparado tanto quanto a Nasa para aquele momento e, no entanto, quando ele aconteceu, fiquei mudo. 'Oh, garoto! Uau! Garoto!' Estas foram as minhas primeiras palavras, profundas, gravadas para todos os tempos. Elas foram tudo o que eu consegui murmurar. Depois, eu iria cobrir todas as outras viagens à Lua, mas aquela foi o apogeu de meus 25 anos como repórter da aventura espacial."
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Sobre a Guerra do Vietnã:
"Numa equivocada tentativa de convencer o governo da imparcialidade do telejornalismo da CBS, o presidente da empresa convidou o então secretário da Defesa, James Schlesinger, para um almoço comigo em seu escritório.
A festa acabou antes do primeiro martini, quando Schlesinger invocou a necessidade de patriotismo em todos os frontes, e eu fui incapaz de resistir a um ataque provavelmente vociferante demais contra toda essa filosofia.
'O trabalho do jornalista não é ser patriota', eu lembro ter dito. 'Como se pode determinar o que é patriotismo, de qualquer forma? Patriotismo é concordar sem questionar com toda a ação tomada pelo governo? Ou devemos definir patriotismo como ter a coragem de falar e agir de acordo com os princípios que se acredita serem os melhores para o país, estejam eles ou não de acordo com os desejos do governo? É dever de todos obedecer às leis do país, mas eu acho que a sua definição de patriotismo, senhor secretário, iria nos impedir de ouvir e reportar as opiniões daqueles que acreditam que a sua política é contrária aos melhores interesses da nossa nação. Talvez esses dissidentes é que sejam os patriotas. Pelo menos eles têm o direito de acreditar que o amor deles pelo país é tão sincero quanto o seu e que eles têm o direito, sob a nossa Constituição, de proclamar as suas crenças. E não é falta de patriotismo reportar a metade deles desse diálogo histórico'."

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