São Paulo, terça-feira, 7 de janeiro de 1997
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BENESSES PARA POUCOS

A revelação de que o secretário-geral do PT, Cândido Vaccarezza, é funcionário "fantasma" da Câmara Municipal paulistana deixou em evidência uma lamentável prática adotada em comum acordo entre o Legislativo e o Executivo da cidade.
Além do espantoso número de 17 cargos de confiança, cada vereador possui três assessores cujos salários são pagos pela prefeitura, os chamados comissionados -caso de Vaccarezza e outros cerca de 200 servidores. Pressionados a encontrar uma saída para esses funcionários, muitos edis cogitaram acomodá-los na Câmara, criando duas centenas de novos cargos. A presidência da Casa rejeitou a proposta, mas não impedirá que os parlamentares continuem com os servidores adicionais.
A infra-estrutura à disposição dos vereadores já é mais do que exagerada. Os salários dos seus 17 assessores somam R$ 28,5 mil. Cada parlamentar, que recebe R$ 4.500 mensais, ainda tem o direito de distribuir entre seus funcionários uma verba extra de R$ 11.618. Tais condições não evitam que o resultado de seu trabalho seja decepcionante, para dizer o mínimo. Dos projetos apresentados pelos vereadores na legislatura passada, 41% tratavam de nomes de ruas, datas ou medalhas.
Em meio às discussões sobre os funcionários cedidos pelo Executivo, uma comissão da Câmara estuda substituir os atuais veículos, a que cada vereador tem direito, por carros mais luxuosos. Os 55 Voyage ano 92 seriam trocados por modelos Santana 97, a um custo de R$ 1,2 milhão.
Para reforçar o caráter pessoal que muitos parlamentares impõem aos cargos que ocupam, alguns já empregaram parentes em seus gabinetes poucos dias depois da posse. É o caso de Jorge Taba (PDT), que nomeou dois irmãos, e Enéas Soares (Prona), que beneficiou dois filhos.
Apesar de renovado pela eleição de outubro passado, o Legislativo paulistano mostra estar preso a nocivos expedientes que priorizam os interesses dos eleitos. As necessidades da população da cidade parecem valer pouco num quadro que transforma os recursos de muitos numa partilha de benesses entre poucos.

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