São Paulo, terça-feira, 7 de janeiro de 1997
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GARGALO NAVAL

Embora o calor das discussões sobre política econômica continue concentrado sobre os dilemas do curto prazo, as principais limitações ao crescimento são mais profundas, principalmente de infra-estrutura. Já se tornou óbvio notar, por exemplo, que, se a economia cresce demais, aumentam as importações, gerando um déficit comercial que afeta a credibilidade na taxa de câmbio.
Por mais que o governo acumule reservas, opere com taxas de juros reais altas ou avance na desindexação da economia, condições todas para que o crescimento econômico fique em limites compatíveis com a estabilidade, ainda é preciso ir além.
Não se trata de reviver casuísmos protecionistas, tendência aliás cada vez mais forte na equipe econômica. Antes de reprimir as importações ou proteger mercados, o governo deve concentrar todos os seus esforços no aumento das exportações.
Veja-se o caso dos portos brasileiros. Perdem-se negócios em decorrência do gargalo naval. A economia deixa de faturar US$ 5 bilhões por ano com exportações devido aos altos custos de operação da rede portuária nacional, segundo estimativas publicadas pela Associação Brasileira de Comércio Exterior.
Custo portuário é sinônimo de perda de competitividade, seja porque as tarifas cobradas são ainda elevadas, seja porque o manuseio das cargas é lento e caro demais.
Curiosamente, é o próprio avanço da privatização em outros setores que torna ainda mais crucial a privatização dos portos. A malha ferroviária está sendo progressivamente vendida, mas de que adianta obter maior eficiência no caminho até o porto se, na fase final, de embarque dos produtos, o custo é ainda inaceitável?
O Brasil exporta 81% da sua pauta por meio dos portos. A necessidade de ampliar as exportações torna urgente o investimento no setor. O longo prazo não é uma abstração. É sobretudo infra-estrutura, componente do "custo Brasil", cuja modernização é condição para crescer mais.

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