São Paulo, terça-feira, 7 de janeiro de 1997
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Vaccarezza dos outros pode?

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Cândido Vaccarezza e o PT merecem todas as críticas que receberam desde que se revelou que o secretário-geral do partido é funcionário "fantasma" da Câmara Municipal. Mas é preciso dizer uma porção de outras coisas.
1 - O escândalo em torno do caso só ocorreu, como bem comentou ontem Josias de Souza, neste mesmo espaço, porque envolvia o PT, um partido que acredita ter o monopólio das virtudes públicas.
2 - O PT tanto martelou tal monopólio que é frequente ouvirem-se elogios ao comportamento ético dos petistas seja de empresários que detestam o partido ou de lideranças dos outros partidos.
3 - De certa forma, os demais partidos assumem que não podem dizer-se virtuosos, a não ser na retórica, porque tal afirmação não emplacaria.
4 - Não há, nisso, um escândalo igual ou maior do que o de Vaccarezza? Ou, dito de outra forma, não é profundamente escandaloso que os demais partidos, com uma ou outra exceção, aceitem, ao menos tacitamente, que a virtude não figura entre as suas características mais marcantes aos olhos do público?
5 - Tanto não figura que baixou um silêncio tremendo sobre o fato de que Vaccarezza não é o único "fantasma".
Escandalizar-se sem farisaísmo requer constatar, o que não vi até agora, que pode haver outros 162 Vaccarezzas por aí (número a que se chega multiplicando-se os 55 vereadores por três, que é o número de funcionários que a prefeitura confirma ceder a cada edil, e subtraindo-se os três "fantasmas" já identificados, todos do PT).
6 - A alternativa, essa sim vergonhosamente escandalosa, é aceitar-se que só há escândalo se o "fantasma" for do PT. Se não for, tudo bem? Pode "mamar", porque faz parte dos usos e costumes da política brasileira?
Uma dupla moral tão ou mais inaceitável do que o duplo discurso do PT.

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