São Paulo, sábado, 11 de janeiro de 1997
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Crianças com Aids ganham casa nova

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

As dez crianças da Casa Vida 2, na Mooca (zona leste de São Paulo), estão se mudando para um sobrado novo. Do alicerce ao acabamento, o projeto da casa teve a participação dos meninos e meninas.
Poderia ter sido uma simples brincadeira de iniciação à arquitetura, mas não foi. As crianças são portadoras do HIV ou doentes de Aids e foram convidadas a participar da construção da casa porque nunca tiveram uma.
A participação no projeto tem um segundo propósito: permitir a elas a reconstrução de suas identidades perdidas com a morte ou o abandono dos pais.
As crianças já estão transportando suas coisas da casa atual, na rua Sapucaia, para o sobrado novo, que fica em frente.
"Eles viram a casa crescer tijolo por tijolo. Acompanharam desde a demolição da casa antiga até a compra dos móveis", diz o padre Júlio Lancellotti, diretor da Casa Vida.
A casa tem cinco suítes, salas de estudo, quintal e duas salas grandes com uma lareira pedida por eles. É nesse espaço que as crianças deverão receber amigos, organizar festas e bailinhos.
"A casa foi pensada para a adolescência que está chegando", diz Lancellotti. Várias crianças da casa têm entre 9 e 12 anos. A pedido das meninas, elas terão em seus quartos penteadeiras e um sofá para visitas.
A psicóloga Maria da Conceição Pereira, que acompanha as crianças, diz que a grande maioria não tinha referência de casa e família. "Um dos meninos desenhava sempre barracos frágeis. Hoje desenha casas lindas."
Na Casa Vida 1 -que também abriga crianças com Aids- estão 20 meninos e meninas entre 0 e 6 anos. As duas casas recebem ajuda do governo do Estado.
O sobrado novo foi construído pelo Projeto Reviver, com recursos da comunidade. Foram R$ 400 mil, entre o terreno e a obra.
O Reviver pretende conseguir do Estado um prédio de uma creche que começou a ser construída perto da estação Carrão do metrô. Quer transformar o local em hospital-dia para crianças e mulheres com Aids.
O Reviver entraria com as obras e a Secretaria da Saúde, com os profissionais.
Segundo Lancellotti, isso evitaria que pacientes da zona leste continuem se deslocando até o Hospital Emílio Ribas. O projeto aguarda apenas uma decisão do Estado. O nome do hospital-dia já foi escolhido: Fabiana Maria, uma garotinha de 7 anos que morreu em 95 na Casa Vida.

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