São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 1997
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Cenário pós-reeleição é de desaquecimento econômico

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

Com ou sem a aprovação da emenda da reeleição, o governo será forçado a aplicar um freio na economia nos próximos meses.
Essa é a opinião de economistas ouvidos pela Folha sobre a economia pós-reeleição.
Se a emenda passar, raciocinam, a euforia do mercado devido ao aumento da credibilidade do governo FHC pode elevar o nível da atividade econômica e o déficit mensal da balança comercial -que, em janeiro, deve ultrapassar US$ 1 bilhão pela terceira vez desde outubro passado.
Se a emenda não passar, argumentam, o governo vai ter de ajustar a economia por um motivo político, adotando medidas mais duras agora para tirar o pé do freio, no ano eleitoral de 1998, a tempo de fazer o sucessor de FHC.
Mailson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda e atualmente consultor de empresas, diz que 1997, por paradoxal que pareça, será um ano de ajuste econômico tanto com a aprovação quanto com a rejeição da reeleição de FHC.
O sim poderá elevar o nível da atividade econômica além do desejado. O não obrigará o governo a reduzir a atividade econômica para ajustar o balanço de pagamentos, especificamente a balança comercial, à nova realidade dos recursos externos.
Segundo Mailson, a derrota da emenda reduzirá o fluxo de capitais estrangeiros para o país.
Mailson diz que, numa hipótese extrema, o governo pode até ser obrigado a fazer uma desvalorização real no câmbio, caso o arrefecimento da atividade econômica não seja capaz de causar uma queda no déficit comercial.
Edward Amadeo, professor de Economia da PUC-RJ, diz que, com o cenário político ao fundo, é melhor fazer o ajuste em 97 do que em 98, porque, do ponto de vista do governo, 98 é um ano eleitoral.
Paul Singer, professor da Faculdade de Economia da USP (Universidade de São Paulo), diz que o freio é uma questão de tempo.
"O governo vai tentar empurrar o máximo possível, mas vai ter de dar uma esfriada na economia no primeiro semestre, provavelmente no primeiro trimestre, depois da divulgação do déficit comercial de 96, que vai ser assustador."
Ele aposta na restrição ao crédito, e não na desvalorização cambial. "Tudo indica que essa equipe econômica prefere esfriar a economia como um todo a corrigir a sobrevalorização do real."

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