São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 1997
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'Fantasma' de Inocêncio assusta Temer

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A candidatura do líder do PMDB à presidência da Câmara dos Deputados, Michel Temer (SP), caminha sobre um fio de navalha há uma semana. O candidato precisa agradar, ao mesmo tempo, ao partido e ao governo, o que, às vezes, é praticamente impossível.
O grande adversário de Temer não são os outros dois candidatos: Prisco Viana (PPB-BA) e Wilson Campos (PSDB-PE), mas sim o fantasma do relançamento da candidatura do líder do PFL, Inocêncio Oliveira (PE).
Prisco faz o papel de candidato da oposição ao governo Fernando Henrique Cardoso, mas tem uma limitação: a vinculação ao nome de Paulo Maluf (PPB), o que praticamente o afasta das esquerdas.
Campos é um candidato avulso, apartidário, embora seja do partido de FHC. Apresenta-se como candidato do "baixo clero". A tradição na Câmara mostra, porém, que o "baixo clero" termina votando em quem tem poder.
O drama de Temer está nos conflitos PMDB-governo. Ele precisa ajudar o governo a aprovar a reeleição, para garantir o apoio do PFL e do PSDB na disputa na Câmara. Mas não pode abandonar Iris Rezende (PMDB-GO) na eleição para a presidência do Senado.
Isso racharia a bancada do partido na Câmara. Pelo menos 40 deputados sofrem a influência direta de senadores do partido. Sem esses votos, Temer não ajuda o governo a aprovar a reeleição.
Ao ajudar Iris, porém, Temer pode perder o apoio do PFL. Se Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) não vencer a disputa contra Iris, poderá ressurgir a candidatura de Inocêncio.
Risco
Para não correr esse risco, os articuladores da candidatura de Temer querem que as duas eleições -na Câmara e no Senado- aconteçam no mesmo dia. Não haveria tempo para uma reação do PFL no caso da vitória de Iris.
A maior prova da desconfiança do PFL em Temer, segundo deputados do PMDB, é que o presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), filho do senador ACM, quer realizar a eleição na Casa dois ou três dias após a disputa no Senado.
Inocêncio descarta, porém, a sua candidatura: "Dizem que político nunca pode afirmar 'dessa água não beberei'. Mas eu digo: 'Dessa água não beberei'. Não serei candidato."
Mas isso não é consenso no PFL. O deputado Mendonça Neto (PFL-PE), autor da emenda da reeleição, diz que trabalha pela candidatura de Temer junto aos líderes do PFL. Mas faz uma ressalva.
"Isso passa necessariamente pela eleição do ACM no Senado. Sem isso, a vida dele (Temer) se torna mais complicada", avisa.
O deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), um dos articuladores da candidatura Temer, reconhece que a eleição no Senado será decisiva. "O governo não tem como atender aos dois lados. Quem perder vai saber perder? A reação do ACM será imprevisível. Ele vai culpar o governo. Tudo pode acontecer", disse Alves.
Altos e baixos
Na caminhada de Temer, o pior momento foi a Convenção Nacional do PMDB. O seu prestígio despencou junto ao governo. Ele se recuperou ao aprovar a emenda da reeleição na comissão especial, com os seis votos do partido.
O governo aplaudiu. No mesmo dia, porém, o líder do PMDB divulgou nota condicionando a aprovação da emenda em plenário a um "amplo entendimento político" com o partido, "no âmbito da Câmara e do Senado".

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