São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 1997
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PMDB e 'baixo clero' são obstáculo a FHC

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um acordão político confeccionado nos gabinetes do Palácio do Planalto tornou a disputa pelas presidências da Câmara e do Senado uma das mais acirradas da história.
A intenção da cúpula política do governo era -e ainda é- garantir os votos necessários à aprovação da emenda constitucional que garante ao presidente Fernando Henrique Cardoso a chance de concorrer a um segundo mandato, em 1998.
Como o projeto depende do apoio de três quintos do Congresso, uma massa de votos que nenhum partido sozinho detém, era preciso ratear o poder entre os potenciais aliados da reeleição.
O governo então investiu para tentar evitar: uma disputa entre os dois maiores partidos, PMDB e PFL e poder demais a qualquer um deles. Pelo acordo, cada partido teria garantido o comando de uma das Casas do Congresso.
Junto com o PSDB, pefelistas e peemedebistas dariam sustentação ao projeto de aliança para a nova candidatura de FHC ao Planalto.
Não foi exatamente como o governo queria. A eleição marcada para o início de fevereiro tem dois candidatos oficiais: o deputado Michel Temer (PMDB-SP) e o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).
Ambos prometem um bom relacionamento com o Planalto, como ingrediente de um projeto de independência e harmonia entre os Poderes da República.
Mas a presidência do Senado ainda é disputada pelo senador Iris Rezende (PMDB-GO). Inconformado com o apoio do Planalto a ACM, o PMDB ainda ameaça complicar o projeto de reeleição.
Na Câmara, também concorre ao segundo cargo da linha sucessória do presidente Fernando Henrique o tucano Wilson Campos (PE), mesmo sem o apoio do partido de FHC.
Como o apoio do Planalto na disputa não é garantia de vitória, o projeto de reeleição corre o risco de ser adiado até que os novos presidentes estejam eleitos.
O resultado depende da maioria dos votos (secretos) de 513 deputados e 81 senadores. Por isso, apesar de tanta negociação, não se pode dizer que a disputa esteja definida.
Os articuladores políticos do governo não acham estranho que a disputa esteja tão tensa. Afinal, ela faz parte do jogo do poder no Brasil que se arma agora para os próximos seis anos -incluindo os quatro de um eventual segundo mandato de FHC.
Palavras
Os senadores do PMDB e, principalmente, o chamado "baixo clero" da Câmara (leia textos abaixo), são os principais obstáculos ao "acordão" da reeleição. São exatamente os setores excluídos das negociações conduzidas pela cúpula política do governo.
O poder do início do ano 2000 já era tratado no início do mandato de FHC. Um acerto selado nas cúpulas do PMDB e do PFL, nos bastidores da eleição do atual presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), deveria evitar a disputa pelo cargo. A vez agora seria do PMDB, dizia o acordo.
Depois, o PFL tratou de acrescentar um novo dispositivo ao acordo, que garantiria ao partido o comando do Senado.
E para isso, o partido ofereceu a renúncia do candidato pefelista à Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), enquanto fazia engordar a bancada do Senado.
Reta final
Na reta final da disputa entre os senadores Iris Rezende (PMDB-GO) e Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) pela presidência do Senado, fica cada dia mais distante a possibilidade de acordo entre os dois candidatos.
Os 13 votos do PSDB podem decidir a eleição. Sem contar com eles, os dois candidatos parecem estar praticamente empatados. Iris conta como certos os 22 votos do PMDB e os 11 dos partidos de oposição (PT, PDT, PSB e PPS). Seus aliados também acham que ele tem votos no PFL, no PSDB, e pelo menos um no PTB. ACM espera receber os 23 votos do PFL, os 5 do PPB, 3 do PTB e 1 do PSL (Romeu Tuma), além dos tucanos.

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