São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 1997
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Governo não vencerá sem PMDB, diz Iris

RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O senador Iris Rezende (PMDB-GO), candidato à presidência do Senado, disse à Folha que, se a emenda da reeleição for aprovada, o presidente Fernando Henrique Cardoso estará praticamente eleito em 1998.
Mas o senador afirmou que, se a emenda for votada na Câmara na próxima quarta-feira, será rejeitada, porque o PMDB não vai votar.
Ele recomendou "prudência" ao presidente. E disse que, se o governo esperasse até 15 de fevereiro, como quer o PMDB, ele próprio seria o "parceiro número um".
Na sua opinião, o PMDB não deveria lançar candidatura própria a presidente em 98, se FHC puder disputar a reeleição. Mas, se o fizer, o candidato peemedebista terá seu apoio. Iris acha que o nome mais forte é o do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
*
Folha - O senhor, que cobra imparcialidade do governo em relação à disputa pela presidência do Senado, considerou satisfatória a declaração do porta-voz da Presidência, Sérgio Amaral, dizendo que o presidente Fernando Henrique Cardoso vai manter a neutralidade, mas que os ministros podem se manifestar?
Iris Rezende - A posição do presidente tem de ser interpretada como gesto de boa vontade, que deixa à vontade ministros que queiram apoiar minha candidatura.
Folha - Por enquanto, o que se vê é um ministro (Sérgio Motta, das Comunicações) defendendo a candidatura do senador Antonio Carlos Magalhães. O senhor tem apoio de algum ministro?
Iris - Não, eu não busquei apoio junto a nenhum ministro, porque quem buscava uma neutralidade do governo não tinha o direito de ir buscar apoio de ministro.
Folha - O senhor acha que o apoio do ministro Sérgio Motta interfere? Ele tem votos no Senado?
Iris - Tem. Ele é um ministro. Interfere sim. Quando chega uma eleição, você não pode subestimar a força de ninguém.
Folha - O fato de o senhor ter o apoio de partidos de esquerda não o coloca em uma situação de oposição ao governo?
Iris - Não, porque o meu concorrente lutou com todas as suas forças para pegar esse apoio. Acontece que ele não conseguiu. E eu consegui. Ninguém pode ser julgado simplesmente pelos fatos, mas também pelas suas intenções. Todos nós estamos buscando votos onde eles existem.
Folha - A decisão do governo de colocar a emenda da reeleição em votação nessa quarta-feira, desconsiderando a posição do PMDB de só votar a emenda após a eleição dos presidentes da Câmara e do Senado, não é uma afronta ao partido?
Iris - São estratégias políticas. Cada um quer se garantir. É natural. O problema é que o governo estabeleceu um calendário como se o mundo fosse acabar no mês de fevereiro. E não vai. O governo está se esquecendo de que considerável parte do PMDB é um parceiro do governo na aprovação da reeleição. Inclusive eu, que já manifestei isso. Então, a prudência recomenda também uma consideração à candidatura do PMDB no Senado. Não vejo possibilidade de aprovação da emenda sem o concurso do PMDB.
Folha - Seus adversários dizem que a decisão da convenção enfraqueceu sua candidatura, porque afastou a possibilidade de apoio do PSDB.
Iris - Essa decisão da convenção fortaleceu minha candidatura. Acusavam-me de bajulador do governo. Eu mostrei que o governo tem de me respeitar também. Minha vida mostra a coragem que eu tenho. Quando todo mundo morria de medo, quem foi convocar e botar o povo na praça pela Aliança Democrática? Fui eu.
Folha - Como encarou a ameaça feita pelo presidente de demitir servidores indicados pelo PMDB?
Iris - Eu acho que ao governo é lícito usar de todas as armas de que dispõe numa batalha. O presidente tem a liberdade, sem causar qualquer ressentimento, de substituir essas pessoas a hora que bem entender. Agora, nesse caso, o governo só se engana porque eu não acredito que tenha peemedebista fisiológico, que apóia o governo por cargos.
Folha - Se a reeleição for aprovada, o senhor acha que o presidente Fernando Henrique será eleito facilmente em 98?
Iris - Entendo que é o nome mais popular do Brasil. Basta ver o índice de aceitação do seu governo. De forma que eu, ao votar a favor da reeleição, o farei consciente de que estou dando ao presidente mais quatro anos de governo.
Folha - Mas setores do PMDB -inclusive o presidente, deputado Paes de Andrade (CE)- defendem candidatura própria do partido em 1998...
Iris - É muito natural que o partido defenda. Mas a gente não pode desconhecer a realidade. Se o partido lançar candidato próprio, eu o defenderei, mesmo sabendo da impossibilidade de sucesso.
Folha - Quem o senhor acha que seria o candidato do PMDB?
Iris - O presidente José Sarney (PMDB-AP) é o nome mais forte hoje nos quadros do PMDB.

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