São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 1997
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ACM planeja continuar ações de Sarney

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Engajadíssimo na reedição da aliança PSDB-PFL para a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1998, o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) tratou de cobrar antecipadamente do Planalto a fatura: o apoio do governo para se eleger presidente do Senado.
Se os planos de ACM derem certo, caberá a ele comandar a votação no Senado da emenda constitucional que garante a FHC a chance de disputar mais quatro anos de mandato. Será também a primeira vez que o PFL presidirá o Senado, desde a fundação do partido há 12 anos.
O apoio explícito de FHC que o senador queria não aconteceu. Mas ACM comemorou o encontro que teve na anteontem com o presidente ao final de uma semana de crise na base governista.
A origem da crise foi, aliás, o apoio que o pefelista recebeu do ministro Sérgio Motta (Comunicações). Em nome de um grande acordo político, Motta sugeriu que Iris Rezende renunciasse à sua candidatura. A declaração, desastrada, insuflou o PMDB contra a reeleição de FHC.
O gesto de FHC bastou para ACM. O senador deixou o Planalto sorrindo, certo de que vencerá no plenário com o apoio dos 13 senadores tucanos. A votação é secreta.
Pouco antes do encontro, o senador disse à Folha que não queria comprometer "o Fernando" na eleição do Senado. Disse também que considerava "salutar" para o Congresso o bom relacionamento que afirma ter com o presidente.
*
Folha - Há ainda chance de um entendimento na base parlamentar governista que evite a disputa pela presidência do Senado?
Antonio Carlos Magalhães - Sempre ficou mais ou menos assentado que cada um teria uma Casa presidir. A Câmara seria do PMDB, e o Senado, do PFL.
Isso posto, ficou claro que toda a nossa força na Câmara será em função do candidato do PMDB. No caso, o deputado Michel Temer. Para haver entendimento, teria que haver a recíproca em relação ao candidato do PFL com apoio de outras forças, que sou eu.
Folha - Qual é a principal diferença, na sua opinião, entre o sr. e o candidato do PMDB, Iris Rezende?
ACM - Não faço juízo de valor sobre o senador Iris Rezende. Cada um tem seu temperamento. Há vantagens e desvantagens e eu não posso dizer quais são. Esse é um dos pontos que os senadores vão julgar.
Evidentemente, cada um de nós tem um projeto para dirigir o Senado. Eu tenho partidos que me apóiam, eu tenho forças políticas que me apóiam e não apresentarei nenhuma coisa em termos do que vou fazer, salvo a defesa do Congresso, do Senado e da independência do Senado em harmonia com outros poderes. Ao mesmo tempo dizer que pretendo prosseguir, tanto quanto possível, a administração do presidente Sarney, que foi muito útil à Casa.
Folha - Entre essas forças políticas, o senhor conta com o apoio, mesmo que implícito, de FHC?
ACM - Eu confesso que esse é um assunto de que eu não trato. Primeiro, porque não posso comprometer o Fernando, o presidente Fernando Henrique, numa disputa aqui no Senado. Ele tem dito em várias oportunidades que não tem interferido no assunto. Consequentemente, eu mantenho tudo o que ele tem dito. O que não impede que eu tenha um bom relacionamento com ele, o que eu acho também salutar para o Senado e para o Congresso.
Folha - E se o PMDB insistir em presidir a Câmara e o Senado?
ACM - Eu acho que isso contraria o jogo político, contraria a maioria que nós temos no Senado hoje, que é reconhecida por todos, uma coisa aritmética. Consequentemente, não é, pelo menos, lógico.
Folha - A forma como o presidente vem agindo com o PMDB ajuda ou complica o jogo da reeleição?
ACM - Cada pessoa tem seu estilo, e eu tenho que respeitar o estilo do presidente Fernando Henrique. Se o Fernando Henrique não fosse o presidente da República, eu ainda poderia discutir. Mas quem chega à Presidência da República com o estilo que tem, evidentemente não posso discutir se é bom ou mau. O fato é que tem sido um estilo de êxito.
Folha - O PMDB pode assumir o papel de principal parceiro do governo, como tem sido o PFL desde a campanha eleitoral de 94?
ACM - O tempo pode modificar as coisas. O PFL quer ser parceiro do presidente na medida em que ele continue com o seu programa. Se o PMDB se insere num contexto igual ao do PFL, amanhã ele pode disputar, quem sabe, a primazia. Nós fazemos isso com muita transparência e com muito pouca exigência.
Folha - O senhor aposta no sucesso da tentativa de votar a reeleição nesta semana?
ACM - Essa data é um desejo. O ideal é que seja votada agora. E se não for pela forma que está em curso, que seja de outra forma.
Folha - Com plebiscito ou referendo?
ACM - (ergue os ombros) É.

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