São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 1997
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Escórcio inaugurou emissora

LUCAS FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O funcionamento do esquema no Maranhão conta com a cobertura do senador Francisco Escórcio (PFL-MA) e do delegado do Ministério das Comunicações no Estado, Itaqué Mendes Câmara.
A revelação foi feita por José Freire Silva, o Parente, que é dono de quatro rádios piratas no Estado.
Imaginando que falava com o assessor de um deputado estadual de Minas, Parente disse que sua rádio pirata em Zé Doca foi inaugurada com uma entrevista do senador.
A Folha obteve com Parente cópia dessa entrevista.
"Hoje que dia é? Primeiro de janeiro de 1997. O que está acontecendo comigo? Eu estou trabalhando. Eu podia estar tomando o meu uísque, tomando minha cerveja na beira da praia, fazendo um lazer. Eu, não. Eu estou é junto do povo", diz Escórcio na entrevista.
O senador prossegue: "Do lado de fora dessa emissora, eu vi a fisionomia de gente tão humilde, de gente tão bacana. Aqui só me resta dizer a vocês: tenham confiança no meu trabalho".
Depois, faz promessas: "Eu quero dar oportunidade ao povo da minha terra. E eu pensei nesse corredor norte de desenvolvimento para que possamos trazer para cá o progresso. Esse meu projeto, se for aprovado, só a quantidade de empregos que vai gerar é uma coisa fantástica".
Nas gravações, Parente denuncia, sem querer, mais um nome.
"O delegado do Dentel (representação do Ministério das Comunicações nos Estados) no Maranhão, dr. Itaqué, falou: 'Olha, já tenho recomendação do senador. Qualquer denúncia que vier para cá (...) vou engavetar, porque daqui a uns dois meses está saindo essa lei' ", afirmou Parente.
Em seguida, a Folha ligou para o delegado do ministério, apresentando-se como um assessor de Escórcio. A reportagem perguntou se estava tudo certo com a rádio pirata instalada em Zé Doca.
"Ele (Escórcio) falou sobre outros locais. Esse, acho que não", responde Câmara.
Perguntado se poderia "segurar" denúncias contra as rádios piratas de Parente no Maranhão, Câmara afirma: "Aqui dá, mas tem que ver é... normalmente isso envolve nível mais alto, entendeu? Eu oriento ele (o senador) aqui".
É o próprio Parente quem revela, em uma das conversas gravadas, como irá pagar o favor de seu padrinho político: "Tem que devolver em voto. A moeda chama-se voto."

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