São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 1997
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Os dados mais significativos do Datafolha colhidos em 20 campeonatos

Números figuram apenas como um dos elementos do esporte

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Fujo dos números como o diabo da cruz. Não corro, porém. Parte, por preguiça; parte, por uma questão de dignidade. Mas apresso o passo, e olho de vez em quando pra trás; e lá estão eles, me perseguindo, com aquele riso meia-lua de gato maligno.
Ao contrário das letras, que se juntam por imantação, acasalando-se docemente em suaves movimentos -diria mesmo em formas circunféricas como a bola que nos traz desde a infância uma sensação única de prazer- os números se perfilam atrás de mim como um Exército de Brancaleone: imagine um 7, um 4, um 9 marchando no seu encalço; pressupõem muletas, bengalas, sei lá que recursos ortopédicos, a ampará-los nessa corrida maluca.
Resumindo: os números, para mim, são seres estranhíssimos, frutos de um pesadelo ou imigrantes de um mundo desconhecido, que, de repente, surgiram para regular nossas pobres vidas.
E o pior é que regulam. Cada vez mais.
No futebol, eles desembarcaram há pouco tempo. Isso, segundo meus cálculos, sempre imprecisos e oníricos. Mas vejo que o Datafolha celebra seus primeiros dez anos de vida. É um número redondo, ao contrário da maioria de seus pares (ou serão ímpares?), bonito, elegante, solene. Taí: do dez, eu gosto.
E, nesse período, inseriu um dado novo no futebol, uma nova maneira de ver um jogo que mexe com duas ponderáveis muito claras: o imponderável e os resultados.
O imponderável é o que nos permite vagar no mundo das fantasias, dos estilos, da graça, do que poderia ter sido sem ser, enfim, todo aquele universo que faz do futebol um ser composto de palavras e imagens, mesmo que preso apenas à imaginação.
Os resultados já nos conduzem a esse estranho mundo da precisão, onde dois mais dois são quatro ( apesar de Einstein, que, confessadamente, era péssimo em matemática).
Mas, então, como vejo essa invasão de números e estatísticas no campo de jogo?
Só como mais um elemento, preciso, sólido, concreto, para se trabalhar com a imaginação de cada um e com os caprichos da bola, que, por esférica e feminina, sempre fará de seu curso um mistério.

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