São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 1997
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Fatores dependem de onde se vive

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os fatores de risco que reduzem a expectativa de vida variam em função do lugar onde se mora. No Nordeste, por exemplo, as causas de morte evitáveis por medidas de saneamento ambiental têm um peso quase três vezes maior do que no Sudeste.
Apenas 25% dos domicílios nordestinos têm ligação com a rede de esgoto. Por essa razão, a infância e a adolescência são períodos muito mais perigosos para um menino do Nordeste do que para outro do Sudeste.
Após os 15 anos, entretanto, quando as mortes violentas passam a ter um peso maior na redução da expectativa de vida, a sobrevivência se torna mais arriscada nos grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro.
Nesse período da vida, os Estados do Sudeste também registram um maior risco de o homem morrer devido a doenças cardíacas ou tumores.
Essa tendência vale até os 50 anos, quando a esperança de vida volta a se reduzir com maior rapidez nos Estados nordestinos.
Mesmo entre regiões com um perfil socioeconômico semelhante, como Sul e Sudeste, os riscos à sobrevivência têm causas diversas.
Em ambos os casos, as mortes violentas têm um peso grande na redução de expectativa de vida. Uma análise mais detalhada feita pelo demógrafo Celso Simões, do IBGE, mostra que os motivos específicos são diferentes.
Nos Estados do Sul, o grande vilão é o trânsito: a cada três mortes por causas externas, uma é provocada por acidente automobilístico.
No Sudeste, o problema principal são os homicídios. Nada menos do que 55% das pessoas assassinadas no Brasil moram na região Sudeste.
O fenômeno do crescimento das mortes violentas, entretanto, não é um problema apenas de Rio de Janeiro e São Paulo, que registraram aumentos de 21% e 17%, respectivamente, desse tipo de óbito entre 1980 e 1994.
Nesses Estados, diz Simões, o fenômeno está ligado à violência urbana e ao desemprego. Já no Pará (crescimento de 16%), Goiás (21%) e Mato Grosso do Sul (24%), o aumento das mortes violentas deve-se à luta pela posse da terra, completa o demógrafo.
Não bastassem as diferenças entre regiões e entre Estados, a expectativa de vida pode variar dentre de uma mesma região metropolitana.
"Os ricos, que moram nos bairros nobres, vivem mais do que os pobres que moram na periferia", lembra Simões.
(JRT)

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