São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 1997
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Federação da indústria combate reprovação

FERNANDO ROSSETTI
DO ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE

Para ilustrar a cultura da repetência no ensino público brasileiro, o secretário-executivo do Conselho de Educação da Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais), Nelson Carlos Teixeira, conta a seguinte história.
Em um daqueles almoços de domingo, onde se reúne toda a família, a dona da casa serve um peixe assado sem a cabeça. "Por que você cortou a cabeça do peixe?", pergunta um visitante. "Faz parte da tradição culinária de minha família", responde a dona da casa.
Inconformado, o visitante se dirige à mãe da dona da casa: "Você também corta a cabeça do peixe?" E ela responde: "Sim, claro, faz parte de nossa cultura."
Ainda não convencido, o visitante pergunta à avó matriarca se ela também cortava a cabeça dos peixes assados. Resposta: "Na minha época, éramos muito pobres e só tínhamos uma travessa, em que não cabia o peixe inteiro. Aí eu tinha que cortar a cabeça."
"É mais ou menos isso que está ocorrendo no ensino público", diz Teixeira. "O problema da evasão e repetência é tão sério que precisa ser analisado mais atentamente."
Prêmio
A tomada de consciência do empresariado mineiro levou, no mês passado, à entrega dos primeiros Prêmios Fiemg para projetos de parceria escola-empresa.
"Com a abertura da economia, os empresários começaram a ter de comparar a qualidade dos trabalhadores. Nós temos um operário que é extremamente desescolarizado", afirma. "No Brasil, um trabalhador fica em média três anos e meio na escola, na Argentina, oito, na Coréia, mais de dez."
"Para nós, a idéia de que é possível uma empresa fazer uma boa seleção de seus trabalhadores é falsa. A competitividade tem que ser da sociedade como um todo, a empresa não é uma ilha", afirma.
Daí se colocar a questão de melhorar o ensino público e, para isso, é necessário, de início, enfrentar a questão da evasão e repetência, defende Teixeira.
A solução foi buscar as parcerias. "Mas não adianta a empresa dar um grande cheque para a escola. Só isso não melhora o ensino. O que nós queremos é emoção na relação do pessoal da empresa com o da escola".
(FR)

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