São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 1997
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Indústria cresceu menos que o país

Serviços puxaram a economia

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

A produção industrial brasileira cresceu menos que a economia do país em 95 e 96, os dois primeiros anos completos de vida do real. O setor de serviços foi o principal motor do crescimento econômico.
Em 1995, enquanto o PIB (Produto Interno Bruto), que mede o valor total das riquezas geradas em um determinado período, cresceu 4,24%, a indústria cresceu apenas 1,98% e os serviços, 5,67%, segundo dados do IBGE.
Também em 95, a agropecuária cresceu 5,89%, mais que serviços, mas seu peso total na composição do PIB foi de 13,3%, contra 52,3% dos serviços e 34,4% da indústria.
Embora o IBGE ainda não tenha fechado os dados para o ano de 96, os números até o terceiro trimestre do ano (janeiro a setembro) e as projeções dos especialistas indicam que repetirá o quadro de 95.
Haverá mesmo um encolhimento ainda maior dos setores responsáveis pela produção física de bens -indústria e agropecuária.
Até setembro, em comparação com o mesmo período de 95, o PIB apresentava um crescimento de 2,10%, sustentado por 3,5% de aumento no setor de serviços; 1,82% na agropecuária; e apenas 0,62% na indústria.
As projeções do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) indicam que o fechamento do ano ocorreu com números um pouco melhores, com o PIB atingindo um crescimento total de 3% e a produção industrial podendo ter alcançado aumento de 1,8%.
Consumo
Para Lauro Vieira de Faria, editor da revista "Conjuntura Econômica", da Fundação Getúlio Vargas, "não está errado dizer que a economia cresceu mais pelo consumo que pela produção nos últimos dois anos"; mas é preciso cuidado ao afirmar isso.
Um dos cuidados, segundo ele, é "evitar o vício marxista segundo o qual serviço não adiciona valor". Faria citou os segmentos de turismo e de entretenimentos como serviços que agregam valores.
"Mas eu não conheço nenhum país que tenha se especializado em turismo e tenha ficado rico por isso", afirmou. Outro cuidado é não pensar que o crescimento das importações só está ligado ao consumo, embora, para ele, esse venha sendo seu papel majoritário.
Faria disse também que "é uma posição arriscada do Brasil relegar a indústria a um segundo plano".
Para ele, é necessária "alguma interferência do governo", que não pode ficar restrita a medidas para reduzir o chamado "custo Brasil" (ajuste tributário e melhoria da infra-estrutura).
Para José Guilherme Reis, chefe do Departamento Econômico da CNI (Confederação Nacional da Indústria), o tipo de crescimento que o Brasil vive "é consistente com a abertura feita para integrar o país à economia mundial".
"O que a gente espera é que este seja um momento de transição e que, na retomada, a indústria volte a crescer", disse Reis.

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