São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 1997
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Câmbio no México só beneficia exportador

CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL AO MÉXICO

A economia mexicana enfrenta hoje um desafio crucial: dotar o seu mercado interno do mesmo vigor experimentado por suas empresas exportadoras, que integram o único setor que foi não afetado pela crise instalada no país no final de 1994.
As empresas exportadoras mexicanas viram seus lucros crescerem em 95, enquanto a atividade econômica como um todo sofreu uma retração de 6,2%.
Naquele ano, 15 mil empresas faliram, 800 mil empregos deixaram de existir e o nível de endividamento das pessoas físicas chegou a níveis insuportáveis.
Beneficiados pela desvalorização do peso, os exportadores venderam US$ 65,8 bilhões em 95. No ano passado, o volume negociado aumentou para a US$ 79 bilhões, valor 68% superior às exportações brasileiras do mesmo período.
O abismo entre o setor exportador e o mercado interno mexicano é reconhecido pelo governo e por empresários.
Poupança
A crise de 1995 reduziu drasticamente o poder de compra dos consumidores mexicanos e, com isso, o mercado interno deixou de ter capacidade para financiar as empresas que não têm um perfil voltado às exportações.
O setor de construção, por exemplo, registrou uma queda de 23,3% de sua atividade em 1995, contra uma redução de 2,5% do setor agropecuário e de 3,4% do setor minerador.
O governo do presidente Ernesto Zedillo adotou uma série de medidas para tentar aumentar a poupança interna e alavancar o crescimento econômico.
Previdência
A primeira delas foi o auxílio às pessoas e empresas que se endividaram antes da crise cambial (ver texto ao lado).
A outra, que entra em vigor neste ano, foi a reforma do sistema de Previdência Social.
O modelo de repartição (em que todos contribuem para um único bolo que financia as aposentadorias) foi substituído pelo de contas individuais. Com isso, o governo espera estimular a poupança, já que cada trabalhador terá controle sobre suas contribuições.
Otimismo
A reforma previdenciária e a performance da economia no ano passado fazem com que o governo e setores empresariais adotem uma postura otimista em relação a este ano.
Em 96, a economia mexicana cresceu 4,5% e a inflação caiu a 27,7%, depois de atingir 52% no ano anterior. Além disso, houve recuperação de 650 mil empregos.
"Nós esperamos que a partir deste ano os mexicanos sintam em seus bolsos os benefícios da recuperação econômica", disse à Folha Alejandro Valenzuela, chefe de gabinete e porta-voz do ministro da Fazenda, Guillermo Ortiz.
Recuperação
A mesma expectativa é compartilhada por Hector Larios, presidente do CCE (Conselho Coordenador Empresarial), o órgão de cúpula do empresariado mexicano. "Acredito que em 97 a recuperação chegará à microeconomia", afirmou Larios à Folha.
Larios, que é um grande empresário e exportador, admite que a situação das pequenas e médias empresas ainda é muito difícil.
Outra origem de otimismo é o aumento da capacidade de pagamento do governo mexicano.
Na quarta-feira, o México pagou os US$ 3,5 bilhões finais do empréstimo que recebeu dos Estados Unidos no início de 95, logo depois da crise cambial. Para isso, o país contraiu outro empréstimo, em condições mais favoráveis.
As reservas cambiais estão em um nível muito mais confortável que há dois anos, quando chegaram quase a zero.
No ano passado, as reservas só chegaram a US$ 10 bilhões graças a empréstimos do FMI (Fundo Monetário Internacional). Atualmente, estão em US$ 17,8 bilhões. Desse total, US$ 8,2 bilhões são formados por recursos próprios.

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