São Paulo, segunda-feira, 20 de janeiro de 1997
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Morador diz estar acostumado com tiros

DA REPORTAGEM LOCAL

Morador se acostumou com ruído de tiros
Os disparos de revólver e a sirene da polícia já fazem parte das madrugadas do distrito de Brasilândia, no zona norte de São Paulo.
A violência aumentou tanto no bairro no último ano que alguns moradores dizem não se importar mais com o barulho.
Afirmam que já se acostumaram com essa situação e, por isso, apenas viram para o outro lado da cama e continuam a dormir.
"Quase toda manhã, a gente fica sabendo que mataram mais um", diz Ângela Maria Franco Vieira, 27. "Antigamente não era assim."
Ângela afirma que no final do ano passado soube de uma menina que foi morta próximo da mercearia em que trabalha. "Depois, cortaram os dois braços dela."
Apesar de sempre ter morado no bairro, Ângela diz que mudaria agora se pudesse. "Iria para o lugar mais longe possível."
Região pobre
Brasilândia é uma região pobre de 21 quilômetros quadrados que abriga cerca de 211 mil habitantes.
Fica numa área montanhosa, onde os ônibus trafegam com dificuldade por causa da grande quantidade de buracos das ruas.
As casas, em sua maioria, são de tijolo aparente, sem acabamento. Numa delas, moram e trabalham Teodoro Roque dos Santos, 60, e Alzira Sinfrônio dos Santos, 49, donos de uma adega.
No ano passado, pela primeira vez, Teodoro Santos viu um assassinato. "Aqui do balcão vi dois rapazes descerem correndo a avenida. Logo atrás vinha um homem atirando. Eles não conseguiram escapar. Morreram com tiros na cabeça e nas costas."
No último dia de 1996, a mulher do comerciante, Alzira, achou que também morreria assassinada.
Quando se preparava para fechar a adega, por volta das 19h, três homens armados invadiram o estabelecimento. Aos gritos, disseram para que ela se deitasse no chão.
Nervosa e assustada, Alzira não conseguiu se abaixar. Um dos homens se aproximou e apontou a arma para a sua cabeça.
Ela diz que falou em voz alta: "O sangue de Jesus tem poder. Vocês não são filhos de Deus?". A resposta foi ríspida: "Fecha a boca, senão mato você e o seu filho".
Os homens levaram os R$ 300, três calculadoras e uma garrafa de uísque. Roubaram também as chaves do estabelecimento.
"Meu filho quer que fechemos o negócio. Ele acha que os caras podem voltar", diz.
O marceneiro Paulo José Ferreira diz que falta policiamento no bairro. "Tenho visto muitos policiais por aqui. Mas sempre depois que o crime já ocorreu", afirma.
Para a moradora Elizete Soares, o bairro não é tão violento. "É igual aos outros."

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