São Paulo, segunda-feira, 20 de janeiro de 1997
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O grande entreposto extraterrestre

BORIS TABACOF

A Nova Economia, assim mesmo, com maiúsculas, é como a "Business Week" da última semana do ano findo denomina a economia americana, construída a partir dos mercados globais e da revolução da informação.
O comércio internacional já atinge 26% do PIB americano. As exportações cresceram 14% nos últimos dois anos. Os juros caíram, contrariando os que apostaram na sua alta.
As discussões e os conflitos de posições tornam-se agudos na medida que essa nova realidade toma forma. É como diz um articulista (Robert Kuttner) daquela revista: "Os negócios americanos interessados em aumentar exportações querem uma linha mais dura na abertura de mercados, mas são abafados pelos 'lobbies', mais interessados em exportar capital e importar produtos".
Ao mesmo tempo, o movimento sindical pressiona por maiores direitos trabalhistas globais e uma estratégia de exportar produtos, em vez de capital e de empregos.
Quais as opções e oportunidades estratégicas e táticas que se abrem para o Brasil nesse cenário?
Há problemas complexos, inéditos mesmo, mas há oportunidades e desafios.
Uma questão é a da chegada de capital internacional em escala importante, pois os fluxos de recursos que circulam no planeta já vêem o Brasil como alvo dos seus interesses.
O que alguns chamam aqui de desnacionalização das empresas brasileiras, como vimos, é visto lá fora como exportação de capital que vai criar empregos "overseas".
A política automotiva brasileira está recebendo pressão dos EUA por atrair capital para construir fábricas no nosso país, sendo vista nos círculos dos sindicatos americanos como uma forma de reduzir empregos lá, pois gostariam de exportar produtos e não capital, construindo fábricas no seu próprio território. Do ponto de vista dos empresários brasileiros, é indispensável que não sofram desvantagem nessa disputa.
A discussão sobre a balança comercial, a política de exportação e os investimentos externos não se limita a aspectos técnicos. Não é só o problema brasileiro: o presidente do Senado francês, René Monory, procurando dramatizar a solução do desemprego no seu país (12,6%) por meio da "grande revolução" nas exportações, propôs em agosto último "substituir o exército militar por um exército econômico do terceiro milênio, enviando 150 mil jovens ao estrangeiro como ponta de lança da exportação".
Um comentarista europeu (Bernard Cassen, in "Le Monde Diplomatique"), fazendo, ao que parece, humor negro, pergunta para onde irá essa exportação sem limites, já que os outros deverão simultaneamente fazer importações.
Sugere, então, criar um gigantesco entreposto extraterritorial, talvez até extraterrestre, no qual todos os países colocariam o que pretendem vender. Cada uma das aproximadamente 200 nações que hoje existem destacaria a força de vendas das suas empresas para as outras 199, os tais "exércitos econômicos do terceiro milênio".
No Brasil, mais modestamente, necessitam os empresários pelo menos igualdade de condições para competir com os demais, especialmente nos aspectos fora dos muros das fábricas. Ou seja, acesso a créditos competitivos, eliminação de ônus fiscais, queda do que se convencionou chamar de "custo Brasil", basicamente ligado à infra-estrutura. Não é suficiente "more of the same", já que a variável fundamental, a taxa de câmbio, é colocada como questão fora de qualquer discussão.
Espera-se, pois, uma mudança qualitativa de grande envergadura na política industrial e no esforço exportador, com especial atenção para juros e impostos.
Alguns otimistas acham que o comércio internacional não produz uma "soma zero". Em vez disso, o fluxo internacional de bens e serviços faz o bolo da economia crescer, com o aumento geral do consumo e da produção, em especial pela ascensão de grandes massas que se incorporam a um novo padrão global.
Vale a pena apostar na possibilidade do dois mais dois igual a cinco.

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