São Paulo, quarta-feira, 22 de janeiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governistas cantam vitória, mas preparam plebiscito

CLÓVIS ROSSI

CLÓVIS ROSSI; MARTA SALOMON
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA*

Votação da emenda da reeleição é adiada de novo, agora para 3ª

As lideranças governistas no Congresso voltaram a vender acentuado otimismo com a hipótese de conseguir a aprovação da emenda da reeleição na próxima terça-feira (a nova data para tentar votá-la definida ontem), mas já acenam claramente com a convocação de um plebiscito.
Cinco dessas lideranças disseram à Folha que a alternativa agora é votar no dia 28 ou o plebiscito, mas nenhuma delas quis assumir publicamente posição tão peremptória, a pretexto de que "humilharia o Congresso".
Combina com essa perspectiva o fato de o publicitário Geraldo Walter, que fez a campanha presidencial de Fernando Henrique Cardoso, ter recebido encomenda para preparar a propaganda pró-reeleição no plebiscito.
Na lista dos mais otimistas, o presidente licenciado do PFL, Jorge Bornhausen, diz que o governo conta com 50 votos na bancada do PMDB, praticamente a metade do total, e vai terça-feira para "ganhar ou ganhar".
José Aníbal (SP), líder do PSDB na Câmara, e Benito Gama (PFL-BA), líder do governo no Congresso, também afirmam que contam com os votos suficientes para vencer (são necessários 308).
Mas o otimismo não combina com um levantamento preparado pela presidência da Câmara. Foram tabulados os resultados publicados pelos jornais e as previsões das lideranças dos partidos governistas. Feitos os cruzamentos, verificou-se que nenhuma dessas pesquisas corresponde plenamente à realidade.
Os números não foram revelados, mas a Folha apurou que "a margem de risco para o governo continua muito elevada".
Convencer o PMDB
É possível que os governistas baseiem seu otimismo na expectativa de um acordo com o PMDB.
Benito Gama chega a dizer que 2 dos 3 líderes da resistência do PMDB, os senadores Ronaldo Cunha Lima (PB) e Jader Barbalho (PA), já estariam convencidos da tese de votar pelo menos o primeiro turno antes da eleição das mesas do Congresso.
Restaria apenas dobrar Iris Rezende (GO).
Mas o senador José Sarney (PMDB-AP), presidente do Congresso, disse ontem a seus aliados que não houve mudança alguma na posição do partido de só aceitar votar a reeleição após a eleição das mesas, conforme decidiu a convenção peemedebista.
"É uma obrigação ética e moral", repete sempre Sarney, mesmo depois de conversar com a filha Roseana, governadora do Maranhão, que estivera na véspera com FHC.
Michel Temer (SP), líder do PMDB na Câmara, tentou ontem vender a Iris Rezende a teoria do empate. Ou seja, o PMDB cede um pouco e vota o primeiro turno no dia 28, e o governo cede outro tanto, deixando o segundo turno para após a eleição no Congresso.
Nem assim comoveu o senador goiano, candidato à presidência do Senado contra Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).
Os líderes governistas garantem que a reeleição passaria mesmo com o PMDB dividido como está.
Mas "não queremos ganhar sem eles", diz José Aníbal, porque o governo "precisa recompor a sua maioria política imediatamente, para as votações seguintes".
A torrente de informações e contra-informações que circulam no Congresso deixa claro que há mais dúvidas do que certezas.
Tantas que o deputado petista José Genoino (SP) desafiava os líderes governistas, aos gritos: "Nós não obstruímos e vocês votam amanhã (hoje), topam?"
Nenhum líder governista aceitou.

Colaborou MARTA SALOMON, da Sucursal de Brasília

Texto Anterior: Ilustre desconhecido
Próximo Texto: Governo quer dia 28 como data-limite
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.