São Paulo, quarta-feira, 22 de janeiro de 1997
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Discussão, hoje, é estritamente ideológica

GILSON SCHWARTZ

A privatização da Vale é hoje uma questão estritamente ideológica e política. O debate na Folha mostrou que, do ponto de vista técnico, todas as críticas feitas pela oposição à venda são contempladas pelo governo. Entretanto, há fortes divergências que não se resolvem tecnicamente.
Segundo Mendonça de Barros, o ex-ministro da Economia da Argentina, Domingo Cavallo, afirmou recentemente que se tivesse que recomeçar a privatização em seu país, seguiria o modelo brasileiro. Ou seja, a privatização brasileira não é "selvagem", como em outros países latino-americanos.
Para os críticos à direita, afirmou o presidente do BNDES, o processo é muito lento, mas tem maior legitimidade e não tem nenhuma pendência na Justiça. O mesmo não se pode dizer das privatizações que ocorreram em outros países da América Latina, como o México, e mesmo em outras regiões, como na Índia.
A "golden share", o veto à venda da empresa para concorrentes ou consumidores, o cuidado em evitar que apenas uma empresa compradora venha a controlar a Vale, o direito à participação em receitas de minas novas e a participação de trabalhadores na venda são alguns dos instrumentos técnicos disponíveis para responder às preocupações dos críticos.
Crítica apaixonada
A crítica, entretanto, é apaixonada. Por duas vezes, durante o debate da última segunda-feira, tive de apelar ao público que superlotava o auditório para interromper agressões pessoais aos representantes do governo. Parecia um auditório da campanha "O Petróleo é Nosso" ou uma assembléia estudantil.
Pedro Simon encarnou uma mistura de Brizola com Jânio Quadros e, histriônico, arrancou aplausos e gargalhadas dos presentes enquanto alertava contra o risco de perder soberania para os japoneses.
Mas, no final, o senador do PMDB conseguiu o que queria: o presidente do BNDES reconheceu que pode ser necessário adiar a privatização para que haja mais debate, garantindo que o presidente FHC não encara a questão em termos pessoais.

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