São Paulo, quarta-feira, 22 de janeiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Obrigado, Brasil!

MAX SCHRAPPE

1997, apesar da CPMF, que -literalmente- inaugura o ano "fiscal" pressionando os preços e a inflação, inicia-se pleno de promessas.
A votação, logo em janeiro, da emenda da reeleição deverá liberar a agenda do Congresso Nacional para a conclusão das reformas, cuja eventual postergação não teria mais justificativas aceitáveis por parte da sociedade.
Paralelamente à revisão da Carta, o país carece de uma providência urgente para que possa, em 97, alavancar a produção, gerar empregos e promover um consistente crescimento do PIB. Trata-se da criação de mecanismos eficientes e viáveis de financiamento da produção.
O próprio governo reconhece a perda de competitividade dos setores produtivos nacionais na economia globalizada, em decorrência do "custo Brasil", do contingenciamento do crédito e/ou do ato preço do dinheiro nos raríssimos canais disponíveis de financiamento.
Os resultados da balança comercial, que registrou déficit superior a US$ 5 bilhões em 96, atestam a gravidade do problema.
Se o diagnóstico dos gestores da economia é correto, o mesmo não se pode dizer do remédio.
A resposta que se começa a dar, no plano do comércio exterior, conforme noticiou fartamente a mídia na primeira quinzena de janeiro, é o desgastado e anacrônico jogo das alíquotas. Esse tipo de protecionismo implica o risco de sanções comerciais de importantes mercados, como os Estados Unidos, e pode comprometer a posição do país junto à Organização Mundial do Comércio (OMC).
Os empresários brasileiros têm plena consciência de que a imposição de alíquotas de importação, mais do que inoportuna na presente conjuntura, está longe de representar uma solução em termos de ganhos de competitividade.
O que todos desejam é que se estabeleçam condições efetivas de tornar suas empresas capazes de enfrentar, nos mercados interno e externo, a concorrência cada vez mais acirrada que caracteriza a globalização da economia.
Para o atendimento a esse anseio do empresariado brasileiro, ao qual se vinculam as metas de crescimento, geração de empregos e desenvolvimento, é imprescindível e urgente uma nova política de financiamento da produção.
Barreiras protecionistas devem ser evitadas ao máximo. Quando muito, podem ser estabelecidas restrições técnicas, como fazem outros países, inclusive os da União Européia e os EUA.
O problema tem mesmo de ser atacado em sua raiz, ou seja, alocando-se dinheiro para investimentos em tecnologia, aumento da produção e da produtividade, treinamento e capacitação de recursos humanos, ampliação das plantas industriais e prospecção de mercados.
Não seria exagero afirmar que a grande vantagem competitiva dos grupos estrangeiros está justamente na disponibilidade de financiamentos de longo prazo, com juros baixos.
O parque empresarial brasileiro precisa de condições idênticas. Caso contrário, será inevitável, a médio prazo, a sua inserção passiva na economia globalizada. Isso significaria o sucateamento da indústria nacional e a paulatina prevalência dos produtos importados no mercado interno.
Como consolo, teríamos a eterna gratidão dos trabalhadores japoneses, norte-americanos, europeus, sul-coreanos e -por que não?- argentinos, chilenos...

Texto Anterior: Um jogo desequilibrado
Próximo Texto: Davos discutirá revolução digital
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.