São Paulo, quarta-feira, 22 de janeiro de 1997
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Rob Cohen dá vida a monstro medieval

FERNANDO PAULINO NETO
DA SUCURSAL DO RIO

Somente uma cena, com duração entre 11 e 12 segundos, de "Coração de Dragão", que estréia na sexta-feira em São Paulo, consumiu US$ 400 mil -ou 40% de tudo gasto na produção do filme nacional "Pequeno Dicionário Amoroso".
"São 12 segundos de magia. E o que é mágico vale a pena", justifica o diretor Rob Cohen, 46, que está no Rio para gravar um comercial do chocolate Ferrero Rocher.
O dragão "Draco", que ganha vida na voz de Sean Connery -na versão original- e de Miguel Falabella -na dublada-, é a grande atração do filme.
"É o primeiro ator computadorizado da história do cinema", diz Cohen. Para fazê-lo, a ILM (Industrial Light & Magic), de George Lucas, cobrou US$ 22 milhões dos US$ 56 milhões do orçamento total de "Coração de Dragão".
Draco, um dragão "do bem", tem somente em sua cara 120 mil pontos a serem manipulados por computador para fazer as expressões faciais que o permitem interpretar.
"A grande vantagem em relação aos atores verdadeiros é que o dragão não reclama de nada nem pede um camarim maior", brinca o cineasta.
A sério, afirma que "o bom é que ele faz tudo o que você quer. O ruim é que você tem que falar para ele tudo o que você quer que ele faça".
Quadro a quadro
Existem no filme 182 tomadas do dragão. "Você tem que comandá-lo por computador quadro a quadro, modificando cada um dos pontos da cara". O custo médio de cada cena com o dragão é de US$ 100 mil.
A cena mais cara, a de US$ 400 mil, é quando Draco protege da chuva com sua asa enorme o cavaleiro e seu melhor amigo, interpretado por Dennis Quaid.
"Coração de Dragão" é uma fábula medieval. Somente a magia do dragão pode salvar a vida de um príncipe que foi ferido após ver a morte do rei, seu pai, em uma batalha.
Draco só salva a vida do príncipe depois de obter a promessa de que ele seria um rei bom e justo.
O príncipe vira um rei mau e um cavaleiro (Quaid) vai em perseguição ao dragão na suposição -equivocada- que ele seria o culpado pelo caráter do rei.
Na impossibilidade de dragão e cavaleiro derrotarem um ou outro em uma luta, eles fazem um acordo de negócios e acabam amigos e sócios. No final, Quaid se vê em um impasse envolvendo o dragão e o rei.
Cohen diz que a idéia de reversão do enredo natural -um príncipe "do mal" e um dragão "do bem"- aconteceu quando esteve na Ásia filmando "Dragão - A História de Bruce Lee".
"No ponto de vista asiático, os dragões é mostrado de modo positivo. Têm sentimentos nobres e bons. Na China, vivem nos rios e são responsáveis pelas chuvas que fazem crescer os campos de arroz", diz.
Por isso, em seu filme, ele quis mostrar o dragão "mais como um símbolo do que é bom e nobre do que da maneira pela qual ele é visto pela cultura européia, como algo mau e que deve ser destruído".
Considerando-se em férias, Cohen, que do cinema brasileiro só conhece Hector Babenco, para quem produziu "Vernônia", vai ficar duas semanas e meia no Rio de Janeiro.
Diz que pela primeira vez em cinco anos está sem compromissos. Ele filmou direto "Dragão - A História de Bruce Lee", "Daylight", com Sylvester Stallone, um filme-catástrofe em exibição no Rio, e "Coração de Dragão", que também está em cartaz nas telas cariocas.
As férias já começaram no feriado do padroeiro da cidade, São Sebastião, na última segunda-feira. "Estou com dor de cabeça, acho que bebi caipirinha demais", disse Cohen.

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