São Paulo, quarta-feira, 22 de janeiro de 1997 |
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Kurosawa dirige comercial
RAUL MOREIRA
O valor do cachê não foi revelado pela agência de publicidade responsável pela proeza, mas o autor de filmes clássicos como "Rashomon" e "Os Sete Samurais" trabalhou com total liberdade de criação. O spot inicia com uma voz em "off" dizendo que "as coisas maravilhosas da vida começam como um sonho". Paralelamente, duas meninas correm em meio a um bosque de bambus. O comercial faz uso de computação gráfica, com pinturas do próprio diretor. Kurosawa faz lembrar no seu comercial algumas das oníricas sequências de "Sonhos", um dos seus mais recentes filmes. O resultado final é que o spot transformou-se em uma fábula metafórica de iogurte. Ao dirigir um comercial do iogurte "Calpis", muito popular no Japão, Kurosawa quebrou um tabu de décadas. Durante muito tempo ele criticou a "política" do cinema televisivo a baixo custo, com "funcionários" que, segundo ele, acabavam substituindo o trabalho dos verdadeiros diretores. "O cinema se destrói fazendo filmes para a televisão", chegou a afirmar o diretor japonês, que resistiu à tentação da televisão por quase duas décadas. Ele já havia rejeitado grandes quantias em dinheiro para dirigir comerciais, principalmente os ligados a automóveis. No Ocidente, o "pecado" de Kurosawa foi visto com um misto de perplexidade e admiração. Para um diretor que já ganhou quase todos os prêmios importantes no cinema, do Oscar ao Leão de Ouro de Veneza, levar à publicidade "uma linguagem cinematográfica magistralmente psicanalizada" não faz mal aos olhos, disse um crítico italiano. Federico Fellini dirigiu depois de famoso três comerciais, que viraram "cult". No ano passado, o alemão Wim Wenders, diretor de "Paris Texas", fez um comercial para uma empresa italiana de eletrodomésticos. Recentemente, o italiano Giuseppe Tornatore, conhecido mundialmente depois do seu "Cinema Paradiso", dirigiu um comercial de meias íntimas que tinha no "cast" o ator Antonio Banderas e a modelo argentina Valeria Mazza. No sentido inverso, alguns reconhecidos diretores de cinema foram descobertos via publicidade. Foi o caso de Hught Hudson, autor de "Momentos de Glória", e o mais famoso deles, Ridley Scott, de "Blade Runner". Texto Anterior: Rob Cohen dá vida a monstro medieval Próximo Texto: Cunningham pesquisa o caos familiar Índice |
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