São Paulo, quarta-feira, 22 de janeiro de 1997
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Lisboa homenageia padre Antônio Vieira

JAIR RATTNER
DE LISBOA

Em 1997, a morte do padre Antônio Vieira, a principal figura da literatura de língua portuguesa do período barroco, completa 300 anos.
As homenagens começam hoje, com o colóquio internacional "Vieira Escritor", que se realiza durante três dias em Lisboa.
Conhecido por seus sermões, Vieira foi uma personalidade polêmica na sua época, com uma vida extremamente agitada. Além de ser um famoso pregador, teve uma importante atuação política. Ele é apontado como um dos principais escritores tanto da literatura portuguesa quanto da brasileira.
Por defender os índios contra a escravatura, Vieira foi expulso do Maranhão; chegou a ser conselheiro do rei de Portugal após a restauração da independência do país, em 1641; e foi perseguido pela Inquisição por motivos políticos e por desviar-se da doutrina oficial da Igreja, colocando a Virgem Maria ao lado da Santíssima Trindade.
Entre as teorias que Vieira defendia está a do Quinto Império, que afirma que o mundo seria dominado por uma potência espiritual e que a língua dominante seria a portuguesa. Uma das personalidades influenciadas por essa teoria foi Fernando Pessoa.
"Optamos por deixar de lado a atuação política, a intervenção histórica e os aspectos biográficos de Vieira, pela necessidade de restringir o colóquio ao aspecto literário", afirma Maria Lucília Gonçalves Pires, da organização do encontro.
Apesar de durante os últimos 20 anos de sua vida Vieira ter se dedicado a preparar sua obra para publicação, grande parte do que o padre escreveu continua inédito.
"Ainda não foi publicado o 'Clavis Prophetarum', que Vieira considerava sua obra mais importante. Ele dizia que seria um magnífico palácio perante o qual seus sermões não passariam de palhoças."
Para Maria Lucília, o colóquio deverá impulsionar os estudos sobre Vieira e o período barroco. Ela acredita que a falta de estudos é resultado de um preconceito contra o estilo existente desde o século 18.
"Os neoclássicos não conseguiam entender Vieira, que para eles era apenas um indivíduo que jogava com as palavras."
Participam do colóquio pesquisadores de seis países, entre os quais dois da Unicamp: Adna Muhana e Alcir Pécora.
Para o encerramento, o ator brasileiro Pedro Paulo Rangel vai apresentar o "Sermão da Quarta-Feira de Cinzas", de Vieira.

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