São Paulo, quarta-feira, 22 de janeiro de 1997
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Troca de reféns

CLÓVIS ROSSI

Brasília - Uma das razões, talvez a principal, que emperra a votação da reeleição é a perspectiva de troca de reféns.
Hoje, o presidente Fernando Henrique Cardoso é refém do Congresso. Depende dele para obter o que se tornou uma verdadeira obsessão: a possibilidade de disputar um segundo mandato.
Se e quando a obtiver, são os parlamentares (os governistas, claro) que se tornarão reféns do presidente.
Assegurada a chance de concorrer de novo, FHC pode dar uma solene banana para o Congresso. "E as reformas?", perguntarão os mais ingênuos. O governo acha, com boa dose de razão, que, mesmo sem elas, o país chegará a 1998 com inflação baixa. E inflação baixa tem sido o maior cabo eleitoral da história latino-americana.
Fez presidentes ou os reconduziu na Bolívia, na Argentina, no Peru e no Brasil.
Se o Congresso votar as reformas, tanto melhor. Se não, o governo imagina que poderá consertar os eventuais estragos no segundo mandato.
Os parlamentares governistas, portanto, ou acertam as suas vidas agora ou nunca mais. Uma avaliação que vale particularmente para o PMDB, já que PSDB e PFL subiram no trem de FHC na primeira hora e, por isso mesmo, ocuparão lugar de destaque nos palanques de 98, inclusive os estaduais.
Já o PMDB, parceiro temporão, depende da obtenção, agora, de espaços políticos, aproveitando a dependência do presidente dos votos peemedebistas para a reeleição.
É claro que o chamado baixo clero negocia coisas bem mais concretas do que o tal de espaço político. Mas os caciques só têm este momento para abrir os seus nichos. Depois, todos, alto e baixo clero, tornar-se-ão irrelevantes para o presidente.
A chance de disputar a reeleição depende do Congresso, mas a reeleição propriamente dita passa ao largo dele.

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