São Paulo, quarta-feira, 22 de janeiro de 1997
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Era tudo uma isca

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Na visão do líder dos pefelistas na Câmara, deputado Inocêncio Oliveira (PE), tudo já está resolvido em relação à nova data para que a Câmara vote a emenda da reeleição.
Eis a sua explicação, depois de almoçar ontem com outros líderes governistas: "Jogamos uma isca e eles pegaram direitinho. Falamos que a votação ia ser no dia 22 e o PMDB reclamou, disse que não podia. Agora apresentamos a nova data e eles votam. Fica tudo certo, pois sempre quisemos votar dia 29".
E qual a garantia de que a ala rebelada do PMDB vai aceitar votar no dia 29? Nenhuma. Mas os governistas têm imaginação fértil.
"Até o Arafat está dando a mão para o (Binyamin) Netanyahu", arriscou o líder do PFL na Câmara, o deputado Benito Gama (BA).
Presente ao almoço, o líder do PMDB, Michel Temer (SP), saiu com os lábios crispados do restaurante. Tenso, só emitia monossílabos.
Também foi vazia a resposta mais loquaz de Temer sobre a disposição do PMDB: "Vamos conversar muito. A disposição é para conversar".
O ministro Luiz Carlos Santos (Assuntos Políticos) é outro que não sabe como viabilizar o novo cronograma. Mas acha que o pessoal do contra vai acabar cedendo. É o caminho natural das coisas, pensa. Sua frase pós-almoço diz pouco: "Ninguém é irracional".
José Aníbal (SP), líder do PSDB, chegou atrasado dizendo que a votação seria hoje mesmo. Meia hora depois, pensava diferente: "Vamos começar a votar na quinta-feira". No caso, "votar" é uma licença poética. A emenda será colocada na pauta para que comecem as discussões.
Em resumo, a novela da reeleição deve continuar ainda muitos dias. Nada garante que será votada na semana que vem. Nem no mês que vem. Assim como nada garantia que seria votada hoje.
Fica a impressão clara de que o governo tenta, de novo, criar um clima de já ganhou. O mesmo clima artificial do começo do ano. Que durou pouco mais de uma semana.

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