São Paulo, quarta-feira, 22 de janeiro de 1997
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Barbosa Lima Sobrinho

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Não é qualquer dia que temos a oportunidade de saudar o centenário de uma personalidade que admiramos. Personalidade que é o nosso maior exemplo de cidadão, de intelectual e, sobretudo, de jornalista.
Reclamam de sua posição nacionalista, de sua coerência com o passado. Parece que passou de moda cobrar coerência dos homens públicos. Temos um presidente que, duas semanas atrás, dizia que a reeleição era assunto do Congresso e hoje empunha todo o arsenal à sua disposição para arrancar uma emenda que o beneficia pessoalmente.
Seria curioso um paralelo entre Barbosa Lima Sobrinho e FHC, não em termos de poder, mas de dignidade cívica e pessoal.
Reconheço que não é hora. Com sua bengala, sua dificuldade em ler, sua voz cansada, ele nos dá diariamente uma lição de vida, soberba vida a que levou, justamente porque não teve soberba alguma.
Nesses 100 anos, mais de 80 de vida pública, nunca deixou de dar o testemunho de sua coragem. A ele, os homens decentes deste país recorreram duas vezes, no auge de crises nacionais: quando foi candidato a vice-presidente na candidatura de protesto contra a reeleição dos militares e, mais recentemente, quando foi o principal signatário do pedido de impeachment de um presidente da República.
No momento, sua luta contra a privatização da Vale do Rio Doce é comovente. Seus argumentos são irrespondíveis. Somente um interesse mais do que suspeito poderia justificar a venda dessa empresa numa operação que equivale a um cidadão vender a cama para pagar o urinol.
Bem, fico por aqui. É uma emoção especial abraçar cem anos de luta pelo que de melhor podemos lutar. A Barbosa Lima, o carinho do Póvoas, do Martim Alonso, do Múcio Leão, do Azul, dos Serpas todos, do Célio de Barros, do Aníbal Freire, do Nelson Carneiro, do Pires do Rio, da velha turma e, modestamente, do Cony, pai e filho.

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