São Paulo, sábado, 25 de janeiro de 1997
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Acesso a hotel é por barco

ROGERIO SCHLEGEL
DO ENVIADO ESPECIAL

Foi a primeira vez que entrei em um hotel de barco. O único de Eldorado que ainda tinha vagas na noite de quinta-feira ficava "no molhado", como os moradores apelidaram a metade da cidade que ficou sob as águas.
Estava sem luz e o "serviço de limusine" era feito por um barco sem dono, amarrado num poste de esquina.
Não havia ninguém na portaria. Lanterna na mão, eu e dois outros jornalistas remamos recepção adentro até atracar na escada que levava ao segundo andar.
Era preciso cuidado para não tropeçar nos móveis espalhados pelo corredor de todos os andares. São coisas que a vizinhança trouxe para proteger da água.
Arrisquei um quarto de porta aberta. Duas pessoas estavam dormindo e continuaram indiferentes à invasão.
Experimentei as portas fechadas, mas não trancadas. Atrás de todas, havia quartos vazios e armários cheios de roupa de gente que não conseguiu voltar.
Um hóspede acordou e avisou que as chaves dos quartos vazios estão juntas em um balcão. Era simplesmente escolher, entrar e dormir. E o registro e o pagamento? "Ninguém se importa com isso hoje".
A enchente mudou tudo em Eldorado. O coveiro, por exemplo, não vê problema em sair remando sobre um caixão que não foi levado pelo rio.
E o ex-prefeito Donizete de Oliveira (PFL) não tem dúvida: o cemitério é o local mais seguro da cidade. "É seco, fica no alto."

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