São Paulo, sábado, 25 de janeiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Livro avalia diálogo de empresas e público

CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Repórter: O sr. afirma que a empresa não é responsável pelas vítimas de Bhopal?
Diretor (da Union Carbide): Eu não disse isso.
Repórter: Isso significa que vocês são responsáveis?
Diretor: Eu também não disse isso.
Repórter: Então o que o sr. disse?
Diretor: Faça outra pergunta."
Esse trecho de uma entrevista do então diretor do departamento de saúde, segurança e meio ambiente do grupo Union Carbide foi reproduzida por vários jornais três dias depois que um vazamento de um gás venenoso em uma fábrica da empresa em Bhopal, na Índia, matou 4.000 pessoas.
A citação pode ser considerada um exemplo clássico de como dirigentes de qualquer organização não devem se comportar quando ocorre uma tragédia ou uma crise que pode afetar profundamente sua imagem pública.
Apesar de sucessivos exemplos -como o caso da Union Carbide em Bhopal ou do vazamento de petróleo do navio Exxon Valdez, no Alasca (EUA)- muitas organizações ainda não sabem e nem se preparam para reagir nesses casos.
Esse é o tema do livro "Em Crise com a Opinião Pública - O Diálogo como Técnica Fundamental para Solucionar Disputas", escrito no ano passado por dois especialistas norte-americanos em disputas públicas, Lawrence Susskind e Patrick Field, ambos ligados ao MIT (Massachussetts Institute of Technology).
Boa parte do livro é dedicada a detalhar como empresas envolvidas em desastres trataram a opinião pública, em especial nos casos em que as consequências do desastre aumentaram pelo modo como o público foi informado -ou desinformado- sobre a crise.
Alguns dados citados no livro são impressionantes e deveriam ser suficientes para que empresas passassem a investir em treinamento para que seus executivos e funcionários aprendam o que fazer em situações de crise.
Estima-se, por exemplo, que as empresas norte-americanas gastem por ano US$ 300 bilhões em litígios envolvendo danos ao meio ambiente, processos contra produtos, acidentes de trabalho etc.
Além de dissecar vários casos de crise empresarial, os autores do livro, lançado recentemente no Brasil, propõem seis passos que deveriam ser dados pelas empresas nessas situações, a começar por reconhecer os interesses do outro lado, do lado prejudicado e por encorajar o exame conjunto dos fatos.

Texto Anterior: Ação da Argentina adia o prazo do controle sanitário brasileiro
Próximo Texto: Bolsa de SP vira 'refém' da reeleição
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.