São Paulo, sábado, 25 de janeiro de 1997
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UM DIA NOS CAMPOS

"Às 7h22 da manhã de 16 de março de 1968, os principais integrantes da companhia Charles estavam a bordo de helicópteros que decolaram na luz clara e rosada do amanhecer; reuniram-se em formação de ataque, então rumaram para o sul em rasante sobre os campos bombardeados e calcinados, em direção a uma área logo a oeste de Pinkville.
Algo estava errado.
Talvez fosse a luz do Sol.
(...) O tenente gritou alguma coisa e abateu uma dúzia de mulheres e crianças, recarregou, matou mais, recarregou, matou mais e recarregou de novo. O ar estava quente e úmido.
'Vamos lá', disse o tenente. 'Vamos, mexam-se, meu Deus. Queimem esses filhos da puta!'
(...)
A matança era contínua e decidida. Os homens faziam pausas frequentes para fumar, comiam chocolate e faziam piadas.
Um período de escuridão se passou, talvez uma hora, talvez mais, e o Bruxo viu-se de quatro no chão, ao lado de uma cerca de bambu. Mais tarde viu-se no fundo de uma vala de irrigação. Havia ali muitos corpos, talvez cem. Ele estava preso na lama.
O soldado Weatherby o encontrou ali. O rapaz começou a sorrir, mas o Bruxo atirou nele assim mesmo."

Trecho de "No Lago dos Bosques", de Tim O'Brien

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