São Paulo, sábado, 25 de janeiro de 1997
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Ciclo exibe filmes do esteta Derek Jarman

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

A pequena retrospectiva de quatro filmes do diretor Derek Jarman, que a sala Cinemateca passa a exibir hoje -prosseguindo até o próximo dia 31-, coloca em evidência que, mais do que um cineasta, Jarman foi apenas um esteta romântico. Talvez, o último.
Um homem que foi ao mesmo instante pintor, fotógrafo e político (lutando violentamente pelo reconhecimento dos direitos dos homossexuais), Jarman parece ter se servido do cinema para seus propósitos, transformando, então, essa arte em complemento para as demais.
Um caso exemplar é "Caravaggio". Nesse filme, realizado em 1986, Jarman ilustra a passagem do pintor Caravaggio por Roma e de que maneira incorporou aos seus quadros sacros figuras marginais, de ladrões e prostitutas.
E ilustrar é exatamente o que faz. Cada cena, enquadramento e tons de cores remetem ao trabalho do pintor, em uma atitude reverencial.
O resultado é belíssimo, nesse que, para muitos, é o melhor de seus trabalhos.
"Diálogos Angelicais"
Outro filme que a Cinemateca vai exibir é "Diálogos Angelicais", de 1995.
Se com "Caravaggio" Jarman assume a pintura, agora seu refúgio é a literatura ou, ainda, o teatro de William Shakespeare.
Para aquecer as imagens idílicas do amor entre rapazes, ele recorre a sonetos do autor.
Aqui, o cinema cede seu lugar ao puro dandismo. Tudo é perfeito de uma maneira angustiante. Tudo é exato e preciso. Tudo é, então, irreal.
Um dos seus mais populares trabalhos, "Eduardo 2º" (1991) é também um mergulho nos escritos de mais um autor tempestuoso e de ações violentas.
Com texto do dramaturgo Christopher Marlowe, fazendo de personagem o rei inglês que, por amar um amigo, recusa a idéia de casamento, o filme se assemelha a um grande discurso em nome de uma causa. Como tal, há uma imensidade de boas intenções e pouco de eficácia.
Cores
Quando morreu em 1994, aos 52 anos, Jarman caminhava para a abstração.
Assumia a pintura e a atração vertiginosa pelas cores, planejando filmes que se chamariam apenas "Azul", "Amarelo" ou "Verde".
Mas, antes, teve a oportunidade de realizar "Wittgenstein", em 1992. Para contar a estranha trajetória do filósofo vienense (que abandonou a filosofia para se tornar jardineiro), Jarman utiliza esquemas nitidamente teatrais.
Trata seu personagem, enfim, da mesma maneira que antes tratou um pintor, Shakespeare ou um nobre. E esse foi o maior risco e erro em toda sua carreira. Nem tudo se explica pelas refinadas artes.

Ciclo: Derek Jarman
Onde: sala Cinemateca (r. Fradique Coutinho, 361, tel. 881-6542)
Quando: de hoje a 31 de janeiro. Acompanhe a programação no roteiro de cinema do Acontece

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