São Paulo, sábado, 25 de janeiro de 1997
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É quase tudo pré-datado

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - As negociações políticas no governo FHC são quase todas a prazo. Nada se dá a um deputado antes de uma votação importante. Só depois.
Essa estratégia de pré-datar os favores é adotada agora por várias razões no caso da reeleição.
Primeiro, porque ficaria muito fácil eclodir um escândalo de cooptação de deputados às vésperas da votação da reeleição.
O segundo objetivo é evitar traições. O governo não quer conceder um favor, nomear um apaniguado que seja, e correr o risco de ser enganado pelo deputado na terça ou na quarta-feira que vem. Vai esperar o voto do parlamentar para depois pagar a dívida.
Afinal de contas, se alguém vai trair alguém nessa história, esse alguém será um ministro ou um líder governista -que, uma vez garantida a reeleição, poderá dizer ao deputado que ficou difícil essa ou aquela nomeação.
Na hora da cooptação, o papo é sempre ameno. E começa sempre com uma pergunta-padrão: "Como andam as suas pendências no governo?".
Em seguida, o deputado ouve as seguintes frases: 1) "Você vai acabar ficando de mal com o governo à toa"; 2) "O que você ganha ficando contra a reeleição?" e 3) "Você tem que parar de pensar nos outros e pensar um pouco na sua própria reeleição em 98".
Sempre sutis, os interlocutores governistas evitam ao máximo falar em troca explícita de um favor pelo outro. Isso só acontece em casos de confiança total. O que é raro em se tratando de deputados e ministros.
Ao final da conversa, se o deputado se convence do favor pré-datado, recebe uma última recomendação: "Se você está dizendo para os jornais que está indeciso ou que é a favor só para os próximos, continue assim. É melhor, para não chamar a atenção".
É por isso que o governo conta muito mais deputados a favor do que os que aparecem nas listas publicadas pela mídia, inclusive pela Folha.
Para sorte de todos nós, a votação da reeleição é aberta. Ficará fácil reconhecer os deputados que mudarão de opinião na última hora.

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