São Paulo, sexta-feira, 31 de janeiro de 1997
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'Não temos como obrigar os moradores a deixar suas casas'

ROGERIO SCHLEGEL
DA REPORTAGEM LOCAL

O tenente David Rocha Martinez, 34, secretário executivo da Defesa Civil de São Paulo, diz que não tem como obrigar moradores de áreas com risco iminente a deixar suas casas. "Não temos poder de polícia para fazê-los sair."
Ela afirma que, em geral, o morador não quer trocar o conforto de sua casa por um abrigo da prefeitura e também teme que ela seja roubada.

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Folha - O que a Defesa Civil faz se uma casa está prestes a desabar e o morador não quer sair?
David Rocha Martinez - Não podemos fazer nada, porque não temos poder de polícia para fazê-lo sair. Tentamos sensibilizar, mostrando o risco de vida.
Folha - Isso funciona?
Martinez - Quando a casa está realmente para cair, funciona. Mas se o perigo não está tão à vista, o morador não deixa o lugar.
Folha - Não se pode chamar a polícia para retirar os que insistem em ficar em área perigosa?
Martinez - Por esse caminho, teríamos que abrir um processo antes, o que toma muito tempo.
Folha - Por que eles resistem?
Martinez - Em geral, não têm aonde ir e não querem sair do conforto da casa para ir para um abrigo da prefeitura. Também temem que a casa seja roubada.
Folha - Há casos de vítimas de deslizamentos que não haviam sido informadas do risco iminente. A Defesa Civil consegue realmente monitorar toda a cidade?
Martinez - O ideal é que as áreas de risco sejam reavaliadas depois de chuvas fortes ou persistentes, porque elas mudam o panorama.
Uma casa que não oferecia perigo imediato pode passar a necessitar interdição depois de uma chuva de 48 ou 72 horas.
Folha - Essa reavaliação das áreas de risco é feita após chuvas intensas na capital?
Martinez - Não, porque quando chove todo nosso pessoal se ocupa do socorro às vítimas. Há ocorrências que duram dias, como é o caso do Jardim Pantanal. Para termos segurança, seria preciso reavaliar pelos menos 473 áreas de risco após cada chuva forte.
Folha - Então novas mortes podem acontecer hoje (ontem)?
Martinez - Podem. A gente reza para que não aconteçam.

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