São Paulo, sexta-feira, 31 de janeiro de 1997
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Relação com brasileiros beira descortesia

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

As relações entre Charlene Barshefsky e o governo brasileiro não têm sido fáceis. Diferenças sobre como deve ser o processo de construção da Área Livre de Comércio das Américas (Alca) têm levado a debates entre ela e representantes do Brasil que com frequência têm beirado a descortesia.
Em março de 1996, por exemplo, quando ainda era a segunda pessoa do USTR, Barshefsky declarou em Bogotá, Colômbia, em referência ao Brasil que "relapsia substantiva, má-fé tática e irresponsabilidade processual" podem minar o esforço de constituir a Alca.
O principal desentendimento entre Brasil e EUA quanto à Alca é que o Brasil acha que ela deve ser feita a partir de "building blocks" (blocos de construção), acordos regionais como Mercosul e Nafta, enquanto os EUA preferem evitar esse caminho porque seu poder de barganha aumenta quando estão lidando com países individuais.
No governo dos EUA, teme-se o aumento da influência brasileira sobre a América do Sul via Mercosul. Anteontem, Barshefsky conclamou os congressistas a aprovarem medidas que facilitem novas adesões ao Nafta porque, se não, "outros países em nosso hemisfério vão construir suas pequenas unidades, (como) o Mercosul".
O Brasil também se queixa de que os EUA iniciaram uma ação contra o regime automotivo brasileiro, apesar de as indústrias norte-americanas no país se beneficiarem dele, de ter balança comercial em déficit com os EUA há dois anos e de ser vítima do protecionismo norte-americano em produtos como suco de laranja e aço.
Mas o que mais irrita diplomatas brasileiros é o tom de Barshefsky, considerado arrogante, e seu vocabulário, tido como frequentemente ofensivo, ao lidar com o Brasil. Alguns chegam a classificá-la como uma inimiga do país.
O presidente Fernando Henrique Cardoso saiu ontem em defesa do Mercosul ao rebater, por meio de seu porta-voz, as críticas de Barshefsky. "O Mercosul é um exemplo de regionalismo aberto. Ele evoluiu concomitantemente a um processo de substancial abertura dos países membros ao comércio com terceiros países", disse o porta-voz Sergio Amaral.
(CELS)

Colaborou a Sucursal de Brasília

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