São Paulo, sábado, 4 de outubro de 1997
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Papa conclama igreja a manter diálogo com 'instituições políticas'

LUIS HENRIQUE AMARAL
HUMBERTO SACCOMANDI

LUIS HENRIQUE AMARAL; HUMBERTO SACCOMANDI
ENVIADO ESPECIAIS AO RIO

João Paulo 2º se diz carioca e elogia a 'arquitetura divina e humana' do Rio em fala improvisada

O papa João Paulo 2º conclamou ontem a Igreja Católica a manter "um diálogo construtivo" com as instâncias políticas, das quais "depende em boa medida a sorte das famílias". Segundo o papa, "o homem é a via da igreja. E a família é a expressão primordial desta via".
O pedido do papa foi feito durante discurso no encerramento do Congresso Teológico Pastoral, no Riocentro (zona oeste do Rio). Estavam presentes 15 cardeais, 476 bispos e 2.500 congressistas.
O papa brincou e elogiou o Rio de Janeiro após o seu pronunciamento. Falando de improviso, em português, bem-humorado e mais bem disposto do que anteontem, na sua chegada, João Paulo 2º comentou a "arquitetura divina e a humana" do Rio.
"A cidade do Rio de Janeiro cria uma inspiração, porque se vê continuamente esta arquitetura divina e também se vê esta arquitetura humana. Mas a arquitetura humana supera a arquitetura divina. Mas também se vê que o homem é um arquiteto", declarou
"O homem é a imagem de Deus. Essa inspiração da arquitetura é importante para a família, porque a família é também arquitetura divina. Depois, a família necessita dessas arquiteturas divina e humana, para viver, para permanecer, para encontrar sua casa. Essa é uma reflexão conclusiva sobre a arquitetura", acrescentou.
Em seguida, o papa brincou com a música "A Bênção João de Deus", cantada pelo público. "Essa música vem do ano de 1980. O papa era muito mais jovem."
Comunicando-se com os presentes, o papa atendia a pedidos de saudação na língua que lhe era feita a solicitação. Ao final, repetiu o slogan usado por um banco nesta semana: "Se Deus é brasileiro, o papa é carioca".
Mas logo acrescentou que, no Rio Grande do Sul, diziam que ele era gaúcho, e que na Bahia, diziam "o papa é nosso filho". Antes de ir embora, se despediu dizendo: "Até a próxima vez".
João Paulo 2º chegou ao Riocentro de helicóptero às 17h45 e foi embora às 19h15. O papa conclamou a igreja a "empreender uma ação pastoral" dando atenção prioritária para as famílias.
"Trata-se de uma tarefa prioritária, fundada na certeza de que a evangelização, no futuro, depende em grande parte da igreja doméstica", disse, referindo-se à família.
Ao justificar seu pedido, o papa afirmou que "entre as verdades obscurecidas no coração do homem, por causa da crescente secularização e do hedonismo reinante, ficam especialmente afetadas todas aquelas relacionadas com a família". Para o papa, "em torno da família e da vida se trava hoje o combate fundamental da dignidade do homem".
Em seu discurso, o papa ainda fez uma crítica indireta ao aborto: "A mesma fidelidade conjugal e o respeito pela vida, em todas as fases de sua existência, estão subvertidos por uma cultura que não admite a transcedência do homem criado à imagem e semelhança de Deus". A igreja acredita que a vida começa na concepção do feto.
Ruth
O presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), d. Lucas Moreira Neves, disse ontem que a entidade não irá responder às declarações da primeira-dama Ruth Cardoso a favor da regulamentação do aborto legal enquanto o papa estiver no Brasil.
"Não falarei enquanto o papa estiver em solo brasileiro", disse o cardeal. "Nem tenho certeza que ela falou isso mesmo, apesar de ainda não ter havido um desmentido", afirmou.
A declaração foi feita em entrevista no intervalo do Congresso Teológico Pastoral. O responsável pela Pastoral Familiar da CNBB, d. Cláudio Hummes, aproveitou para minimizar a declaração de Ruth: "Creio que a igreja deverá responder a isso depois da visita do papa. O importante é o que o papa diz, e não a dona Ruth", declarou.

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