São Paulo, domingo, 5 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Papa diz que miséria destrói família e pede luta contra o desemprego

JOÃO BATISTA NATALI; LUIS HENRIQUE AMARAL
DOS ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO

João Paulo 2º condenou duramente o aborto e o divórcio em seu pronunciamento ontem à noite no Maracanã, no 2º Encontro Mundial do Papa com as Famílias. Mas também abordou temas sociais, condenando a miséria.
"A miséria destrói a família, impede o acesso à cultura e à educação básica, corrompe os costumes, destrói em sua própria raiz a saúde dos jovens e adultos", afirmou.
O papa ainda pediu, no discurso, que "os que trabalham na edificação de uma nova sociedade" lutem por "leis justas que combatam a miséria e o desemprego".
O papa chegou ao Maracanã às 17h30. Saiu do carro oficial e desfilou no papamóvel, sendo aclamado por uma multidão comovida.
João Paulo 2º assistiu, por três horas, a uma superprodução centrada na família. Uma sequência de 18 testemunhos de casais e crianças de 17 países apresentou narrativas, vividas por eles, que traziam implícitas condenações à eutanásia, ao divórcio e ao aborto.
A cerimônia foi apresentada pelo ator Tony Ramos e por sua mulher, Lidiane, casados há 23 anos. Cerca de 115 mil pessoas lotavam o estádio. Fafá de Belém cantou "Ave Maria", segurando um terço. Depois, ajoelhou-se e beijou as mãos do papa.
O prato de resistência, no entanto, foram os testemunhos. Alguns dos exemplos: o casal belga Paul-Marie e Christiane Boldo relatou como gerou nove filhos e adotou outros dez.
Chari e Miguel Angel Gordillo, da Espanha, contaram de que forma resistiram à pressão dos médicos para um aborto preventivo e obtiveram sêxtuplos num parto considerado quase impossível.
James e Daniela Koegler, alemães, ele evangélico e ela católica, afirmaram conviver ecumenicamente com base no mesmo respeito à vida. Falou também uma das filhas de Giovanna Beretta Molla, médica italiana que determinou aos cirurgiões o sacrifício da própria vida para permitir o nascimento da filha, que gerava em sua quarta gravidez. A médica foi beatificada pelo papa em 1994.
A escolha deste testemunho assumiu caráter político. No Congresso brasileiro, tramita projeto que regulamenta o aborto em unidades públicas de saúde quando houver risco à vida da mãe.
A ênfase ao conceito tradicional da família -e o paralelo declínio de pastorais que estimulam as lutas sociais e políticas- tem sido uma das tônicas deste pontificado.
Em seu pronunciamento, o papa voltou ao tema. "A família é patrimônio da humanidade, porque é mediante a família que, conforme o desígno de Deus, deve-se prolongar a presença do homem sobre a Terra."
Também condenou explicitamente o adultério.
Em dois telões instalados ao lado da tribuna em que João Paulo 2º se encontrava, surgiu a imagem de madre Teresa de Calcutá, recentemente morta, em oração proferida em 1994, em Roma, quando do 1º Encontro Mundial do Papa com as Famílias.
(JOÃO BATISTA NATALI e LUIS HENRIQUE AMARAL)

Texto Anterior: Um papa multicultural
Próximo Texto: Tumulto marca entrada
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.